Para a Edição de Dezembro da GeoMag escolhemos um castelo muito especial e que tem realmente um excelente motivo para ser visitado durante a “época das chuvas”… falamos pois do Castelo de Almourol, aquele cujo acesso feito pelo Rio Tejo nos deixa com a sensação de estarmos realmente em plena conquista medieval!
O Castelo de Almourol, classificado como Monumento Nacional desde 1910, está implementado numa escarpa em pleno rio Tejo, um pouco a jusante da confluência deste com o rio Zêzere, no distrito de Santarém e possui, à semelhança do Castelo de Tomar, uma arquitetura militar templária.
Desta arquitetura fazem parte duas das inovações implementas pelos templários: as altas Muralhas protegidas por torres circulares (nove torres implementadas ao sabor do terreno, tendo por isso tamanhos e formas diferentes) e a Torre de Menagem (de três pisos) como centro de toda a estrutura.
Além de ser um dos castelos que melhor invocam a presença dos templários em Portugal é também um dos mais emblemáticos da Reconquista Cristã.
História…
O Castelo foi erguido onde existia um primitivo castro lusitano, conquistado pelos romanos no século 1 a.C. Este local seria posteriormente ocupado também pelos Alanos, Visigodos e pelos Mouros.
Não se sabendo ao certo quando foi contruído, sabe-se que o Castelo é anterior ao início do Reino de Portugal. E que quando foi conquistado pelas tropas portuguesas (1129), “dava” pelo nome de Almorolan (ou Al-morolan - pedra alta). Nesse ano, D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, doou estas terras a Gualdim Pais, o mestre dos templários, tendo estes, mais tarde, reedificado o castelo (1171). O castelo tornou-se então ponto estratégico e fundamental para o comércio de azeite, trigo, porco, fruta e madeira entre Lisboa e o resto do território.
Com o passar dos séculos foi perdendo a sua importância e foi deixado ao abandono, votado à ruína. Já em pleno século XIX, com a realização de obras de restauro foi alterada a sua fisionomia original, com a construção de muitas das suas ameias e merlões. No século seguinte (décadas de 40 e 50) foi readaptado para assumir a função de Residência Oficial da República Portuguesa, com alguns importantes eventos do Estado Novo.
Está sob a alçada do Exército desde a segunda metade do século XIX, afecto à Escola Prática de Infantaria de Tancos (no dia da nossa visita assistimos ao arriar da bandeira por parte de um par de militares, uma cerimónia sempre interessante de ver ao vivo).
Desde a metade da década passada até aos nossos dias todo o espaço relacionado com o castelo foi sofrendo obras de beneficiação. A saber: a construção de dois cais de embarque (um na margem direita da rio e outro na zona sul da ilha), beneficiação e restauro das muralhas, intervenções na torre de menagem (substituição do terraço e colocação de escadas) e a implementação de um “espaço museológico e expositivo” muito interessantes (com conteúdos e matérias relativas aos Templários).
Características…
A sua construção, irregular (orgânica) devido ao terreno, está demarcada em “dois níveis”, o exterior (inferior), e um outro, interior (mais elevado e acedido por alguns degraus).
Ao primeiro acede-se através da entrada principal, onde podemos encontrar algumas lápides fazendo referência à intervenção de Gualdim Pais (com o nome do obreiro e o ano da intervenção). É neste espaço que se localizam as muralhas com as nove altas torres circulares (quatro a oeste e cinco a leste), a porta da traição e o que se pensa ter sido um poço.
Subindo os já referidos degraus, e atravessando outra porta, entra-se na zona interior e no segundo nível, mais elevado, onde encontramos a torre de Menagem, quadrangular e característica dos templários.
Por toda a pequena ilha foram abertos alguns caminhos, permitindo que se passeie junto das muralhas e se tenha a possibilidade de se observar várias perspetivas da bonita paisagem envolvente.
Lendas e Mitos…
São muitas as lendas e mitos que existem sobre o Castelo e que se encontram, invariavelmente, associadas ao “romantismo templário”. Deixamos aqui algumas que se podem encontrar pesquisando a amiga internet:
- Nos primeiros tempos da Reconquista, D. Ramiro, um cavaleiro cristão, regressava orgulhoso de combates contra os muçulmanos quando encontrou duas mouras, mãe e filha. Trazia a jovem uma bilha de água, que, assustada, deixou cair quando lhe pediu de beber rudemente o cavaleiro. Enfurecido, acabava de tirar a vida às duas mulheres quando surgiu um jovem mouro, filho e irmão das vítimas, logo aprisionado. D. Ramiro levou o cativo para o seu castelo, onde vivia com a própria esposa e filha, as quais o prisioneiro mouro logo planeou assassinar em represália. Entretanto, se à mãe passou a ministrar um veneno de acção lenta, acabou por se apaixonar pela filha, a quem o pai planeava casar com um cavaleiro de sua fé. Correspondido pela jovem, que entretanto tomara conhecimento dos planos do pai, os apaixonados deixaram o castelo e desapareceram para sempre. Reza a lenda que, nas noites de São João, o casal pode ser visto abraçado no alto da torre de menagem e, a seus pés, implorando perdão, o cruel D. Ramiro.
- Um senhor árabe de Almourol foi atraiçoado pelo cavaleiro cristão por quem a sua filha se apaixonou, e a quem esta revelou os segredos de entrada no castelo. O cavaleiro usou a informação para fazer uma emboscada e o emir e a sua filha preferiram lançar-se das muralhas ao rio a ficarem em cativeiro.
- O heroico cavaleiro Palmeirim foi acometido por uma grande tempestade que forçou o navio em que viajava, da Inglaterra para Constantinopla, a arribar na costa portuguesa, fundeando no rio Douro. Desembarcando na cidade do Porto, o cavaleiro tomou ciência das aventuras de alguns cavaleiros que tinham travado combate com o gigante Almourol, que em seu castelo a meio do rio Tejo custodiava a bela princesa Misaguarda e suas damas. Em busca de aventuras, o Palmeirim se desloca para o sul, onde, à margem do Tejo avista à distância o Castelo de Almourol. Aproximando-se, vê o fim da luta entre dois cavaleiros numa praça junto do castelo, reconhecendo no vencedor o Cavaleiro Triste, com o qual já duelara. Em sinal de vitória, o Cavaleiro Triste junta o seu escudo ao de outros, que também já a haviam obtido. Neste escudo encontrava-se retratada a sua dama, a bela princesa Misaguarda, por quem o Palmeirim fica enamorado. Travando-se o combate entre o Palmeirim e o Cavaleiro Triste, cai a noite, encerrando a luta sem um vencedor. O Cavaleiro Triste é recolhido ao castelo para tratar de suas feridas, enquanto o Palmeirim vai procurar auxílio em uma aldeia próxima. Nem um, nem outro, entretanto, alcançam o favor da princesa, que aconselha o primeiro a se retirar e desistir de novos combates por um ano, enquanto o Palmeirim retoma o seu caminho para Constantinopla. Após esse feito, o gigante Almourol foi atacado e vencido por outro gigante, Dramusiando, sob a proteção do qual ficam, doravante, a bela princesa e sua corte.
Geocaching…
O castelo é anterior ao “reino” e a geocache local não lhe fica muito atrás! Outubro de 2002 é realmente dos primórdios deste nosso hobbie!
Uma colocação spot on que adquiriu ao longo dos tempos o estatuto reservado apenas “Aquelas” Caches, colocadas em sítios deveras especiais e que tornam este nosso hobbie tão mais interessante. “Aquelas” cujo nome nos transportam para o nosso imaginário infantojuvenil… “The Treasure Island”, uma cache pioneira colocada pelo pcardoso e mantida pelo MAntunes.
Escondida numa zona de vegetação, próxima da entrada do Castelo, também ela cobra a conquista, guardada por um verdadeiro exército espinhoso e são já algumas dezenas de valentes aqueles que face às adversidades, regressam de mãos a abanar… terás tu melhor sorte!?
Fontes: http://www.historiadeportugal.info/castelo-de-almourol/
http://www.cm-vnbarquinha.pt/index.php/visitar-2/castelo-de-almourol#hist%C3%B3ria
https://pt.wikipedia.org/wiki/Castelo_de_Almourol
The Treasure Island - http://coord.info/GC9F38
Texto / Fotos: Rui Duarte (RuiJSDuarte)
Artigo publicado na GeoMagazine#24.