Lent terá passado a maior parte do tempo a vaguear pela Europa sem saber quem era e de onde vinha.
Há cerca de seis meses foi encontrado pela polícia, em Viana do Castelo, num estado de confusão mental e subnutrido. Estes remeteram-no aos cuidados das freiras da Congregação das Irmãs Missionárias do Espírito Santo, no convento de Alvarães, que cuidaram dele até há um mês atrás.
A comparação das impressões digitais e a colaboração da Interpol, da polícia de portuguesa e da embaixada de França em Lisboa, permitiram ao Gabinete de Segurança de Viana do Castelo assegurar que, afinal, o homem de cabelo e barba brancos e olhos claros, é o mesmo que estivera internado no Hospital Psiquiátrico de Paredes de Coura.
No convento, Lent recuperou rapidamente. No dia-a-dia lia muitíssimo, descrevia lugares exóticos ao pormenor, utilizava frases de autores clássicos, sabia de filosofia, história e ciência. Mostrava-se sempre muito educado e disponível. No entanto passava tempo indeterminado na cozinha a olhar para os tupperwares e a tirar-lhe as medidas. No exterior, sempre que passava por uma árvore oca, buraco na parede ou fenda da rocha metia a mão lá dentro e estava constantemente a dizer que precisava de comprar pilhas recarregáveis e blocos de notas. Além disso escrevia registos extensos de visitas a locais nas paredes, em cinco línguas diferentes.
Estes comportamentos levaram a que as freiras, há cerca de um mês, pedissem ajuda ao departamento de Saúde Mental de Viana do Castelo para avaliar o seu estado. O psiquiatra Sabino Pinto, do Centro Hospitalar do Alto Minho, acorreu a este pedido e falou com Lent dizendo-lhe que a polícia já o identificara e que ele era Michel Lent - o francês desaparecido. Ele respondeu: "Não sou eu, não é esse o meu nome. Dizem que sou francês, mas não o sou. Sou geocacher! Chamo-me Grenouille", nome que escreveu num papel numa atitude alegadamente desesperada para convencer que o que dizia era verdade.
Segundo o psiquiatra, Lent não perdeu a memória nem a lucidez. "Somente perdeu a identidade, e pode ser que tenha tomado conscientemente essa decisão".
Sabino Pinto informou a polícia de que Michel Lent dizia ser geocacher. Esta contactou geocachers portugueses para aprofundar a investigação, tendo sido verificada uma grande relação entre Grenouille e diversos geocachers da região do Grande Porto, partilhando cachadas, publicação de caches e participação em eventos.
No dia seguinte à visita do médico, Grenouille fugiu de Alvarães, tendo deixado uma carta às freiras, onde agradecia a hospitalidade e dizia que ia procurar as suas raízes. Foi visto há dias no abandonado Hospital Psiquiátrico de Paredes de Coura que o acolheu até 2002, por um ex-funcionário da instituição, que alertou a polícia.
O hospital inicialmente denominava-se Sanatório Marechal Carmona e foi um dos maiores e melhores hospitais do Norte, no que se referia ao tratamento de doenças pulmonares. Foi inaugurado em 16 de Setembro de 1934com toda a pompa e circunstância.
Em 1955 o hospital recebe melhoramentos; dos 40 doentes iniciais passa a ter 70. A partir de 1962 tinha 200 utentes, movimentando anualmente 400 doentes. Contava 60 funcionários, destes, cerca de 65% eram naturais do concelho de Paredes de Coura.
Mais tarde o edifício albergou pessoas com problemas psiquiátricos, recebendo a denominação de Hospital Psiquiátrico de Paredes de Coura. Em 2002 foi encerrado, ficando à mercê do tempo.
No hospital a polícia lançou-se à procura de “Grenouille” nos diversos compartimentos do imóvel, (anexos, cave e dois andares), desde a sala de máquinas,
arquivo, cozinha ainda equipada com fogão e panelões industriais, refeitório com mesas e cadeiras, quartos com janelas gradeadas, à recepção ainda com sinais de utilização. No arquivo documental nas profundezas do edifício, faltava o processo clínico de Michel Lent. Todo o arquivo estava remexido, bem como o mobiliário, os registos de serviço telefónico, os contactos de antigos funcionários e administradores, as actas de reuniões, os diários de enfermagem, os desenhos e peças de artesanato e ainda uma maquete de grandes dimensões.
A polícia não encontrou Michel Lent mas viu sinais da sua presença por todo o edifício, nomeadamente extensos registo de visitas a caches nas paredes. Ainda se encontram a investigar qual será o seu paradeiro e que arquivos, documentos e ou outros elementos este possa ter em sua posse.
Há pois ainda muito por esclarecer. A história de Lent, que está a ser contada pela imprensa internacional e que foi destaque num programa televisivo, não é tão clara quanto parece. A estranha história do homem que se expressa em cinco idiomas (francês, português, espanhol, italiano e inglês) e que faz registos extensos de caches, ainda está longe do fim.
Na recepção do edifício deixou a primeira pista, que passou despercebida pela polícia mas que para qualquer geocacher é um sinal evidente de que Grenouille precisa de ajuda na procura da sua identidade.
Este apelo é lançado a todos os geocachers destemidos que se devem munir de lanternas, roupa e calçado resistentes.
A cache encontra-se devidamente autorizada por quem de direito, Qualquer coisa... Que vão da parte do Jorge Silva da Junta de Mozelos




