
La Ruta de Los Túneles - Barca d'Alva.
Ora bem, por onde começar... Provavelmente pelo princípio...
E primeiro está a "Ruta". Estes 17kms de aventura, que qualquer geocacher que se preze (mais dia, menos dia) ambiciona fazer.
Para nós esta aventura iniciou no passado mês de Abril, quando estivemos a "sondar" o terreno. Passeámos pela estação de Barca d'Alva e fizemos a travessia da ponte internacional (a primeiríssima, e em melhor estado). Na verdade, tal serviu para medir a viabilidade da façanha para metade do team, mais susceptível às alturas. Na altura ficámos ambos convencidos que o percurso seria impossível para os dois, e que a cache seria inevitavelmente feita apenas por um.
Com um fim-de-semana prolongado e, a iminência de um meeting organizado pelos timearth para o Domingo, achámos que seria a altura ideal para fazer a Ruta. Pelo menos para um de nós.
No entanto, a coisa acabou por dar-se na véspera. Depois de uma conversa com os Famami (que já tinham feito o percurso) que deram ao elemento do team mais reticente, uma descrição detalhada do percurso e, das alternativas possíveis, reacenderam-se as esperanças. Assim, e como as previsões meteorológicas não eram as melhores para o dia de Domingo, decidimos fazer-nos ao caminho de véspera, ao nosso ritmo, em formato de tentativa, mentalizados para um regresso antecipado, no caso de surgirem demasiadas dificuldades.
Já não foi cedo que chegámos a Barca d'Alva, seriam talvez umas 10h30 quando carregámos as mochilas e demos as primeiras passadas. Nada de grave, dado que tínhamos guardado o dia inteiro para as pontes e túneis. Com familiares a residir na região, não pensámos muito em como seria feito o regresso a Barca d'Alva, de uma forma ou de outra, estaria assegurado. De qualquer forma, passámos pela residencial Bago d'Ouro para ficar com o contacto. Existe por lá um serviço de táxi, já acostumado à recolha de pessoas ao outro lado.
Antes de atacar o primeiro ponto, mais uma larga sessão fotográfica do que resta da outrora importante estação da Barca. Vale a pena recordar as memórias da mãe da Célia, que em moça por algumas vezes se fez transportar por esta linha, ainda no tempo em que as locomotivas eram a vapor e prometiam à chegada de Lumbrales, enfarruscar os passageiros de cima abaixo. Outro testemunho, bem mais preocupante, mas que ainda se pode observar, é o calabouço na estação, improvisado pela PIDE, cuja entra se faz por um buraco mesmo sob um vão de escada.
Ainda lá está, para quem queira ver com o seus próprios olhos (ver foto).
Logo depois deste, outra ponte. Esta sim, mete medo. É a primeira do género e é extensa. Quase que esquecemos de apreciar a paisagem envolvente tão concentrados estávamos no desafio que se estendia à nossa frente. Depois de analisar a morfologia da ponte férrea, e das possibilidades de atravessar, optámos pela menos cómoda, mas mais segura, tendo sido esta a estratégia que utilizámos nas restantes.
Há essencialmente 3 formas de atravessar estas estruturas. Pelo tabuleiro (centro ou laterais) pela via de manutenção por debaixo do tabuleiro. A última está fora de questão, isto porque se resume a três ou quatro tábuas em estado duvidoso mal assentes em arcos de ferro. A via central (pelo meio do carril) constituída por tábuas longitudinais não suscita confiança e, como vimos mais adiante, nalguns sítios, não existe, tendo já sucumbido a algum incêndio. Restavam-nos as laterais do tabuleiro, que não são idênticas. A passagem pela via esquerda é feita transitando sobre uma "passadeira" de tábuas alinhadas com cerca de meio metro de largura, auxiliada por um corrimão de ferro. A via direita é feita passando por uma viga de ferro rebitada com cerca de 20 a 30cms de largura e corrimão de ferro. As tábuas da passadeira estão em muito maus estado (pregos saídos, madeira queimada, por vezes há até falhas), de modo que optámos pela alternativa que nos pareceu ser a mais sólida debaixo dos nossos pés, a travessia pela viga. É claro que é também a forma menos confortável de fazer a passagem, dado que se tem sempre em vista o abismo ao lado dos nossos pés (o truque é fixar a viga e prestar atenção onde se coloca o pé). O corrimão a cerca de 0.5m de distância não facilita, mas dá mais alguma confiança para não haver desequilíbrio. Apenas isso, dado que manifestamente não parece ser sólido o suficiente para no caso de uma queda, aguentar o peso de quem quer que seja.
Bom, e lá fomos. A primeira travessia pela viga mete respeito, e impressionou-nos aos dois. Já no outro lado, e depois da experiência, foi altura de confirmar a viabilidade do resto da aventura... Tudo OK? Sim?... Siga!
Umas quantas pontes e túneis depois e, estávamos alcançar o ponto intermédio. Perfeito! Já passava das 13h, seria altura ideal para recuperar as forças. E assim fizemos uma espécie de picnic à sombra de uma árvore qualquer. A paisagem até aqui, tinha sido avassaladora, mas a nota no ponto intermédio prometia que o melhor ainda estava para vir... Vamos a isso.
Regressámos à linha, e reiniciámos a marcha, com o passo compassado, procurando assentar o pé sempre na tábua do carril.
De facto o cenário começava ligeiramente a mudar, ficando mais selvagem e único. O dia estava excelente, sem vento e com uma temperatura amena e agradável. Os túneis fazem corrente de ar, pelo que a sua passagem é sempre uma experiência refrescante. Às tantas perdemos a conta às pontes... Para os túneis não há problemas, pois estão todos numerados.
Tudo estava a correr bem, mesmo assim, não nos saía da cabeça o pensamento da travessia da ponte da curva. Para cada uma que nos surgia à nossa frente, vinha-nos à mente a pergunta "É esta?"... E de repente a meio do caminho avistamos ao longe 4 pessoas no sentido contrário. Cumprimentos habituais e troca de algumas, palavras. Tratava-se de dois casais espanhóis (provavelmente pais e filhos) que faziam o trajecto contrário. No melhor portunhol, deu para perceber que era a primeira vez para os mais velhos (nos seus cinquentas/sessentas), e vejam só que os mais novos faziam-se acompanhar de um belíssimo e frenético cocker spaniel!...
Deram-nos ainda algum feedback sobre a temida ponta da curva (que o cão atravessou aos braços de um deles!) e sobre o afamado túnel n.3 que iríamos encontrar mais adiante.
E finalmente a curva, ou melhor a ponte... Só o aspecto, mete respeito. Trata-se de uma ponte que liga um túnel a outro. O efeito da curva é conseguido por meio de três tabuleiros desalinhados, sendo o principal desafio, transitar entre eles. Aqui foi necessária uma volta de reconhecimento, pelo que o elemento mais à vontade do team fez de batedor e foi sondar o caminho. Conclusão, dado que a ponte pende para para a esquerda, as falhas entre os tabuleiros são mínimas pelo lado esquerdo (fica a dica!). Quem quiser acrescer duas ou três estrelas de dificuldade, deverá fazer a passagem pela direita, que requer um salto de pelo menos meio-metro de distância. Não estávamos ali para complicar, pelo que seguimos pela esquerda. Uma das dificuldades, é o facto de aqui não haver passadeira, pelo que se deve atravessar pela viga, coisa a que já estávamos habituados. Segurar o corrimão com a mão esquerda também causa estranheza (para os destros, que é o caso) e o facto do corrimão interromper no local das falhas também proporciona um certo frisson, quando não se espera. A travessia fez-se finalmente, e que alívio foi chegar ao outro lado!... Prova superada.
Ficámos tão maravilhados que até nos esquecemos da cache, o que obrigou a um de nós, retroceder e fazer mais uma travessia (mas no sentido contrário). Concentrado nas indicações do GPS, rapidamente se chegou a cache, que depois de tudo o que nos tinha sido dado a ver, seria um mero bónus, desta experiência única.
Regressados ao caminho, os pernas já pesavam, os pés já não levantavam e começávamos a dar chutos no cascalho de granito.
Ainda faltava passar o túnel n.3... Já íamos prevenidos, pelo que com o nariz e boca tapada fizémos-nos a ele. À medida que se entra o cheiro vai intensificando. Bastante desagradável, mas tolerável. Debaixo dos nossos pés, deixámos de sentir o cascalho e carril, e quando demos por ela estávamos a pisar um esponjoso "tapete" de excrementos de morcegos. O que impressiona mesmo é o alarido que a colónia de morcegos faz por cima das nossas cabeças. Em momento algum parámos, e sempre com o foco apontado para o chão à nossa frente, seguimos em passo vigoroso. Ainda deu para vislumbrar e sentir à nossa frente, o voo de dois três "ratos de asas". A colónia deve ser imensa, e o susto da nossa presença deve ser maior para eles do que o contrário.
Depois disto, mais uma ou duas pontes, ou talvez nenhuma, já não sabemos precisar...
Objectivo cumprido, chegávamos a La Fregeneda ainda com luz do dia.
Agora tratava-se de assegurar o regresso. Dois ou três telefonemas, e ninguém da família estava disponível para nos vir buscar. Péssima altura...
O Sr. Andrés também não podia, pois estava a caminho de Figueira. Felizmente tínhamos o contacto da D. Sara da pensão Bago d'Ouro, que em poucos minutos nos enviou um transporte para nos vir buscar. 4lts de bebida isotónica foram justos para duas pessoas durante o percurso, de modo que regressados à Barca, vai de aviar dois refrescantes granizados de manga.
Ainda havia tempo pra uma fotozita nocturna da ponte da Barca, antes de regressar a casa, cansados, mas com um rasgado sorriso de satisfação.
Será seguro dizer, que pelo formato, pelo desafio e, pelo local, esta foi, passados 1000 e poucos tupperwares, a melhor cache que nos fica na nossa memória...
Sem dúvida, uma referência apreciável para o "CV" de qualquer geocacher.
É caso para dizer, Been there, done that!
O nosso imenso agradecimento aos dois co-autores pela ideia e iniciativa, desta cache que figura no clube restrito das melhores no nosso território.
IN: Pedra Flor.
OUT: -
Célia & Daniel (MakoShark2 Team).

Um pequeno video que retrata alguns momentos da nossa aventura...
vimeo: (visit link)
ou
youtube: (visit link)
Célia & Daniel (MakoShark2 Team)