Num vale da margem esquerda do Tejo, a jusante das Portas de Ródão encontra-se a Mina de Ouro Romana do Conhal do Arneiro, uma extensa escombreira formada por gigantescos amontoados de seixos, testemunhos da extração de ouro que terá decorrido nas épocas romana e medieval.
Esta gigantesca mina a céu aberto terá resultado do desmonte gravítico dos depósitos sedimentares do Vale do Tejo por ação hidráulica. A água utilizada na lavagem dos sedimentos seria transportada desde a Serra de S. Miguel e da Ribeira de Nisa até ao local da exploração, através de canais escavados para o efeito (a “Vala dos Mouros”). Os seixos maiores eram retirados dos canais de evacuação de sedimentos por triagem manual e empilhados ao longo das margens do canal, em amontoados cónicos ou rectilíneos que particularizam a paisagem desta região.

Subsiste ainda, próximo do extremo norte do conhal, o Castelejo, um relevo de quinze metros de altura que ocuparia uma posição central entre os canais de evacuação.
Calcula-se que se tenham removido 10.000.000m2 de seixos para extrair cerca de 3 toneladas de ouro.
A realização do percurso pedestre PR4 – Trilhos do Conhal, ajuda-nos a compreender o contexto paisagístico e a magnitude do esforço humano na transformação do espaço natural, há quase dois mil anos.
Diz a história que para provar a qualidade do minério alentejano, D.João III terá mandado fazer um ceptro em ouro extraído deste rio, e Vasco da Gama uma cruz, mostrando aos venezianos que em Portugal havia metal mais precioso que o do Oriente.
A área arqueológica do Conhal do Arneiro é um dos geossítios do Geoparque Naturtejo da Meseta Meridional.
E é neste cenário cheio de história que vive a cache “3 Toneladas de Ouro / 3 Tons of Gold (Nisa)” GC12TRR.

Com uma listing muito apelativa, cheia de informação sobre toda a história do Conhal do Arneiro, ficou a curiosidade de visitar este local, do qual nunca tinha ouvido falar.
Existem várias formas de lá chegar.
Uma delas, e na minha opinião será a mais interessante, é iniciar o PR4 – Trilhos do Conhal (9,8 Km, percurso circular) na povoação do Arneiro, saída na N18, que liga Nisa a Vila Velha de Rodão.
Durante este percurso, temos a oportunidade de passar pelo Buraco da Faiopa, local conhecido pela lenda onde uma tal D. Urraca se perdeu de amores por um mouro. Este, para se encontrar com a amada, atravessava o rio por debaixo do seu leito através de um imenso túnel que ligava a Faiopa ao Castelo. O marido de D. Urraca, quando descobriu a traição da esposa, atou-lhe uma mó ao pescoço e atirou-a a um poço ou ao Tejo.
A existência de fraturas preenchidas com limonite e a abundância de fraturas no interior deste túnel leva a pensar que o mesmo terá sido uma mina de ferro. No local existe a cache “Buraco da Faiopa” GC3WV5H.

Caso o tempo seja escasso, ou não gostem mesmo de andar a pé, existe a possibilidade de levar a viatura muito perto do Conhal do Arneiro. Entre muitas estradas de terra batida (um rasteirinho atrevido vai até lá) basta seguir as indicações de Tejo/Pego das Portas (cais fluvial). Junto à entrada da mina existe um placard informativo.
O local… é diferente. Milhares de seixos rolados em montinhos rodeiam-nos. Dá-nos a sensação que durante muito tempo, andou por ali alguém a fazer montinhos de pedras. Para onde quer que olhemos, elas estão ali. Por isso é importante perceber o contexto, do porquê de aquilo ali estar.
Olhando para a seta do GPS, percebemos que ainda temos que andar um pouco. O objetivo é o Castelejo, o tal pedaço de terreno intocado, com cerca de 15 metros de altura em relação à área envolvente. Do topo desta elevação podemos ter a perceção do volume de terras explorado. A sua posição central é estratégica e, por esse motivo, serviria provavelmente para controlar a mina e tráfego fluvial. Do local tem-se um panorama fantástico para as Portas de Rodão. Vale sem dúvida uma visita.

Far away, so close
E por falar em Portas de Rodão… devo dizer que é um dos locais mais fantásticos onde já estive, embora tenha sido na versão azimute, o que levou a sangue, suor e lágrimas J Mas um bom geocacher gosta é de desafios. Aliás, descoberto o trilho certo, é afinal um passeio na avenida.
Portas de Rodão é uma imponente crista quartzítica que irrompe entre dois imensos blocos de pedra e que resulta do atravessamento da Serra das Talhadas pelo rio.
Há milhares de anos as águas do Tejo cobriam uma vasta região. A sua ação erosiva deu origem a esta garganta, onde o rio atinge uma das suas maiores profundidades. Este estreitamento marcava o anterior limite de navegabilidade do Tejo, quando este era um canal de comunicação entre o interior e o litoral do país. Aqui o Tejo corre entre duas paredes escarpadas, que atingem cerca de 170 m de altura, fazendo lembrar duas "portas", uma a norte no distrito de Castelo Branco, e outra a sul no concelho deNisa, distrito de Portalegre.

No topo da "porta" norte, que é facilmente acessível por estrada, situa-se o pequenocastelo do Rei Wamba. Deste local vislumbra-se um vasto panorama sobre o vale do Tejo a jusante das Portas, com oConhal do Arneiro na margem esquerda, e o povoado paleolítico deVilas Ruivas na margem direita.
Os amantes de observação de avifauna poderão deliciar-se com este local privilegiado de observação da maior colónia degrifos dePortugal, assim como dacegonha-preta ou o milhafre-real.
As Portas são também um dos geossítios do Geoparque Naturtejo da Meseta Meridional, tendo sido classificadas como Monumento Natural, a 20 de Maio de 2009.
Na Porta do lado Norte, poderemos encontrar a mítica cache “Far Away, So Close” dos GreenShades, GCF508 e a “Castelo de Rodão, Castelo do rei Wamba”, GC1NRAR.
Na Porta do lado Sul a não menos importante “Just Get There” do MAntunes, GC27FGF, que só se encontra disponível entre Agosto e Novembro, devido à nidificação da colónia de grifos. Por esse motivo, ainda não tive a possibilidade de a visitar, mas está na lista J
“Far Away, So Close”… é uma experiência inigualável. O GZ deixa-nos à beira daquele brutal penhasco, com a outra porta pela frente, e onde sobrevoam sob as nossas cabeças dezenas de grifos.
São estes “grandes” tesouros, que fazem com que acredite que o nosso geocaching sempre nos trará lugares fantásticos de arregalar os olhos.

“Se pensas que a aventura é perigosa, sugiro que experimentes a rotina… É mortal!!”
Paulo Coelho
Artigo publicado na GeoMagazine #21.


