Naquele dia regressávamos da extremidade sul da ilha de São Tomé, onde tinhamos pernoitado numa cabana junto ao mar. Enquanto conduzia, ia deitando olhares às casas que de espaço a espaço se apresentavam à beira da estrada. Aquelas habitações palafitas, erguidas sobre um sistema de estacas, não deixavam de me espantar. Por vezes, os que têm animais, usam a parte de baixo assim criada como curral. Outros, colocam ali alfaias agrícolas e bens que podem ser armazenados sem risco ao ar livre. Certamente um bom etnógrafo explicaria a tradição palafita da ilha sem dificuldade. Mas no meu imaginário aquele tipo de construção encontra-se associada às comunidades rurais da Malásia, do Vietnam ou da Birmânia, mas não a São Tomé e Principe. E contudo lá estão elas, um pouco por toda a ilha, mas sobretudo na zona sul, onde, espantosamente existe um clima diferente que gera uma paisagem também ela distinta. Tudo nesta parte de São Tomé é tropical. As chuvadas, a vegetação feita de selva densa, o imenso verde acentuado…
Ao sair de uma curva, dou com mais uma destas interessantes habitações à minha frente e decido parar o carro para a fotografar nas melhores condições. Estava eu de Nikon em punho a cumprir a sagrada função, quando do interior da casa sai uma jovem mulher em grande vociferação. Pensei imediatamente que já tinha ali arranjado um pequeno sarilho. Mas logo percebi que não. Muito pelo contrário, aquilo eram as boas vindas de quem abraça com uma enorme alegria a possibilidade de quebrar uma rotina diária sem fim à vista. O que ela queria mesmo, feita criança por um minuto, era que eu lhe tirasse o retrato, posando orgulhosamente à entrada da sua casa. E assim foi feito.
Viu com excitação a iamgem no LCD da câmara e, depois, explicou-se melhor: se não podia, por favor, enviar-lhe a fotografia por correio. Tomei nota do nome e da morada, sabendo que nunca o iria fazer, não por falta de vontade, mas por não acreditar que o envelope acabasse por chegar à destinatária. Mas alegre-se o leitor porque fiz melhor. Aproveitei a visita ao Algarve do meu anfitrião de São Tomé para imprimir e plastificar a bela imagem em formato A4. E se a Helena não tiver mesmo assim recebido a sua imagem, eu próprio tratarei de lha entregar em mão, na próxima viagem aquela bela ilha.
Artigo do blog Cruzamundos. Mais textos em http://www.cruzamundos.com/
