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ValenteCruz

ValenteCruz

Saturday, 17 April 2021 17:00

Fafião, Sombrosas à Messe, que Rocalva!

Num dia de liberdade pela montanha, longa e solitária caminhada com início em Fafião, passagens por Porto da Laje, Porta Ruivas, Prados da Messe, Rocalva, Bicos Altos, Ponte da Matança e regresso a Fafião, num total de 32 km (percurso). Para além do habitual fascínio geresiano, gostei de terminar bem e num bom ritmo. Cada regresso à Serra do Gerês é uma oportunidade de reencontro com uma essência secular de resiliência e equilíbrio natural. Nos dias que correm, para quem se aventura à sua descoberta, pode servir também de psicólogo, promotor de uma certa harmonia pessoal e refúgio dos ritos da vida moderna.

Manhã cedo, cheguei a Fafião e estacionei junto à estrada principal. Com tudo preparado, iniciei a caminhada pelas ruas intrincadas em direção ao famoso Fojo do Lobo, que aproveitei para revisitar. Subi depois em direção ao Miradouro de Fafião. Desconhecia a sua existência, pelo que foi uma excelente surpresa quando encarei os dois enormes penedos no topo da encosta com uma ponte entre eles. A travessia faz-se sem problemas e, embora as vistas sejam semelhantes, é mais reconfortante para o sentido de aventura pisar o topo do rochedo que se ergue na paisagem do outro lado do desafio.

O percurso subiu depois a encosta, alternando entre caminhos largos e trilhos. À medida que a altitude aumentou, a paisagem foi-se tornando mais despida de arvoredo. O caminho acessível a veículos terminou num parque de merendas no planalto serrano, com boas vistas para o vale. O abrigo assemelha-se a uma casa dos Flintstones, ideal para um dia com sabor a montanha e a benesse da acessibilidade. A partir dali o percurso prosseguiu pelo trilho de pastoreio que deambula a meia-encosta sobre o rio Fafião. Pouco depois, tive a primeira visão inteira do desafio da subida das Sombrosas. Tinha passado ali há cerca de oito anos, vindo de uma pernoita memorável na Rocalva. Apanhei a promessa de um regresso que ali tinha deixado e continuei em modo acelerado pelo trilho, que em algumas partes fica um pouco mais vertiginoso e desafiante. Um pouco mais à frente considerei uma descida às lagoas cristalinas, mas acabei por desistir da ideia pela longa caminhada que tinha pela frente.

Na chegada ao Porto da Lage, junto à represa, passei por uma manada de vacas e prossegui para o encantador Prado da Touça, onde reencontrei o típico abrigo. O local parece reduzir-nos ainda mais à nossa pequenez, assoberbados pelos grandes vales da Touça e do Laço. Passando pelas cascatas e lagoas idílicas, iniciei a exigente subida para o topo das Sombrosas. Leve e ligeiro, acabei por ter menos dificuldades do que a memória afiançava. Os patamares sucederam-se naturalmente e a visão sobre os vales limítrofes ganhou mais amplitude. Alcançado o primeiro pico, tentei aproximar o percurso ao lado mais exposto, sobreposto ao Vale da Touça, mas a irregularidade do terreno dificulta a progressão. Após vários atalhos e experiências, consegui aceder à vertente que me levaria ao topo da Porta Ruivas (ou Roibas, como assinalado da placa do abrigo do prado homónimo). Lá em cima, aproveitei para fazer a paragem de almoço, abrigado do vento.

Ao descer do maciço rochoso passei pelo prado e acelerei depois em modo corrida pelo planalto. Apanhei posteriormente o trilho que vem desde a zona das Minas dos Carris e prossegui em direção aos Prados da Messe. O prado principal parecia ter sido recentemente alvo de um incêndio controlado para renovação das pastagens. Após uma breve vistoria às boas condições do abrigo, aproveitei para abastecer de água e continuei em ritmo de corrida pelo planalto serrado. Após a passagem pelo Prado do Conho, pontuado pelo enorme penedo vertical, decidi fazer um pequeno desvio, seguindo no trilho do Prado do Vidoal e até à Lomba de Pau, de onde tive uma visão alargada dos dois lados da serra. Um vento frio seguia de cume em cume, assobiando conselhos por trilhos mais protegidos.

Contrariando a vontade de seguir em linha reta até ao próximo objetivo, desci até à encruzilhada e prossegui em direção ao Prado da Rocalva. Não existirá monólito nesta serra mais caraterístico e emblemático, pelo que é sempre um prazer ver surgir este gigante granítico. Ficou, mais uma vez, a promessa de subir ao seu topo, após uma tentativa insípida há alguns anos. Este prado, tal como os outros, ainda estava bastante verdinho, criando contrastes interessantes nas fotos. À chegada ao abrigo encontrei as únicas pessoas que vi nesta caminhada (não contando com a aldeia), que iriam pernoitar na montanha. Após uma breve e agradável conversa de partilha de interesses, retomei a corrida em direção ao Prado Vidoeirinho. O Estreito do Laço apareceu logo depois, abençoado com as mesmas visões de quase sempre para o profundo Vale do Laço e a parte superior do Vale do Conho.

Continuando pelo planalto, deixei os acessos aos vales para trás, e prossegui pelo trilho em frente. Aproveitei depois um desvio para aceder a um pico com boa vista para as duas rocas e fiz mais uma paragem no abrigo Pradolã. Na descida posterior aproximei-me da encosta sobreposta ao prado e abrigos dos Bicos Altos e não consegui resistir a mais um desvio, por onde nunca tinha passado. Retomando a corrida, fui apanhar o trilho mais à frente e iniciei a descida para a Ponte da Matança. Como o trilho parece ser pouco usado e as encruzilhadas são muitas, foi necessário validar com frequência o percurso desenhado no plano para garantir que estava no caminho certo.

Várias decisões e curvas depois, consegui chegar à Ponte da Matança, atravessei o rio e iniciei a subida para Fafião. Junto ao rio, tudo ganhou ainda mais grandiosidade, desde a vegetação e a diversidade até às paredes graníticas verticais. O trilho furou pelos túneis do arvoredo, circundando os penedos da encosta ingrime. Não demorei muito tempo a chegar à bifurcação por onde tinha passado de manhã e prossegui em corrida para a aldeia, fazendo mais duas breves paragens no miradouro e no fojo. Para trás tinham ficado cerca de 32 km, já reduzidos de alguns desvios, e 11 horas de silêncio e solitude na montanha.

Artigo publicado em cruzilhadas.pt

Saturday, 20 February 2021 17:00

Garganta de Loriga

Durante a semana fiquei a saber que um grupo de expedicionários preparava a aventura da subida da Garganta de Loriga. A vontade deixou de imediato a mente de sobreaviso, visto que as oportunidades de boa companhia e caminhadas pela montanha não devem ser desconsideradas. Infelizmente, a Valente tinha que ir trabalhar no dia em questão pelo que não pôde estar presente. Contudo, e como a experiência foi avassaladora e gratificante, acabei por deixar um sorriso fechado no mapa para que o possamos abrir num qualquer dia de regresso a esta serra de encantos.

Após alguma logística, seguimos para Loriga e estacionámos junto ao quartel dos bombeiros, iniciando pouco depois a marcha. Ao chegarmos ao planalto que fica sobre a aldeia, tivemos um primeiro encontro com a enormidade que se erguia diante de nós. Lá em baixo corria a ribeira de Loriga, que desce do planalto serrano, formando pequenas cascatas até chegar à praia fluvial, um ótimo recanto para alturas de maior estio. Prosseguimos então pelo trilho, relativamente bem marcado e fácil de seguir.

Todo o cenário, assim como o tempo, pareciam que se tinham engalanado para a nossa visita, proporcionando-nos uma experiência fantástica e que apenas ainda estava para começar. De máquina fotográfica em punho, lá fomos avançando, fazendo pequenas paragens para descanso e alimentação. Confesso que parecia uma criança irrequieta com um brinquedo novo na mão, tentando registar tudo o que podia.

Pelo meio fizemos um pequeno desvio para aceder a uma antiga mina de volfrâmio e chegámos ao Covão da Areia. O gelo e a neve começaram então a fazer-nos companhia, tornando o trilho mais espetacular e permitindo inúmeros momentos de criancice, que ficam sempre bem em todas as idades. Como levava a máquina acabei por não patinar muito, mas ocupei-me com outras distrações. Tínhamos de ter mais cuidado e ninguém chegou a cair, ou pelo menos não existem provas de tal. As estalactites de gelo pareciam troféus nas nossas mãos e imaginação.

Depois do Covão da Areia subimos para o Covão do Meio e pelo meio aproveitámos para mais um momento de geocaching (GC39QED). Ao chegarmos à barragem ficámos siderados com aquele espelho de água mágico, que amortecia com ternura as imagens das encostas geladas do vale nas suas águas. Seguiram-se muitas imagens para recordar, que ali nos assaltaram os sentidos e a memória dos cartões das máquinas.

Prosseguimos para o Covão Boeiro e ainda tivemos a oportunidade de experimentar uma sessão de patinagem numa lagoa gelada. Aqui, porém, já se registaram várias quedas. Ainda que alguns tentassem sabotar o gelo com buracos, tudo acabou por correr bem. Ao chegarmos à estrada, e depois de apenas termos avistado um fotógrafo na caminhada, parecia que Portugal inteiro estava em rota para a Torre. Para quem se aventura para lá da estrada que embica na Torre, existe um admirável e fantástico mundo novo para descobrir!

Para terminar o dia, regressámos ao mítico Cântaro Magro. Aqui não vale a pena deixar que algo tão vulgar como as palavras descrevam este lugar. Esta foi sem dúvida uma caminhada memorável, com a Estrela engalanada de gelo e neve, em excelente companhia, e com um tempo fantástico. Nas melhores condições para subir a Garganta de Loriga e na companhia de sphinx, royk, darkangel, neval, mafilll e mcm.

Artigo publicado em cruzilhadas.pt

Sunday, 31 January 2021 17:00

Sede de montanha

Em busca dos recantos fantásticos da Arrábida, no encalço da meia montanha da Serra do Risco (GCH744). O objetivo passava por alcançar o vértice geodésico que fica no topo da crista montanhosa, sobranceiro sobre o mar imediato. Pelo caminho segui em passeio geocaching, de enigma em enigma (GC3G2FJ), passando por inúmeros pontos de interesse. A experiência acabou também por ser um aviso sério sobre a importância da água num contexto de isolamento.

A elaboração do plano, incluindo informações e sugestões, decorreu sem sobressaltos. A investida acabou por ser individual, visto que a Valente optou pelo marasmo da praia. A noite anterior foi longa e mal dormida, pelo que estava a considerar adiar a aventura. Porém, pela manhã, começou a remoer uma inquietação, que me fez saltar para um banho frio e para esta experiência. Contudo, acabei por levar apenas cerca de 1,5 litros de água, o que me complicou bastante a vida. Num dos dias mais quentes do ano, a partir do meio do percurso tive de fazer uma gestão cuidada, do esforço e da água.

Quando assentei o olhar na meia montanha da serra do Risco pressenti de imediato que o dia estava ganho. A parte inicial decorreu sem sobressaltos, em passeio acelerado pelo sopé da serra. A meio do percurso fiz um desvio para ir conhecer as marmitas de gigante (GCVZ4H). Seguindo o trilho recomendado, acabei por não demorar muito a chegar próximo do local e fiquei impressionado com o que avistei. Como estava na hora de almoçar optei inclusive por ficar mais algum tempo por ali e fui primeiro recuperar as forças nos alimentos, com a anuência de uma sombra muito acolhedora. Depois do registo andei em explorações, entrando e saindo das saliências calcárias. Fui ainda até o topo, de onde se tem uma vista generosa e fantástica para o vale mais abaixo. Fiquei curioso sobre como seria o local com o ribeiro a correr por lá. Certamente será uma visão extraordinária, com as pequenas cascatas e a vegetação que lhe dará uma envolvência de beleza. Contudo, como é natural, pela altura da visita não havia água e estava tudo deserticamente seco.

Continuando a caminhada, passei ao lado da pedreira. A paisagem foi-se tornando mais alva, menos interessante e diminuída de natureza. O passo tornou-se mais lento e empoeirado, sendo que na subida apareceram as primeiras dificuldades pela falta de água. Chegado lá acima, avistei o infinito azul. À minha frente estendia-se uma janela fantástica para o horizonte, emoldurada pelo arvoredo e rochas, onde aproveitei para descansar à sombra. Segui depois pela crista da montanha em direção ao pico. O percurso é fantástico, entre os campos de um lado e uma visão extraordinária para o abismo azul do outro. O trilho na parte superior é um verdadeiro regalo para os sentidos. É quase impossível tirar os olhos do que se estende aos nossos pés e é daqueles sítios que nos devolvem a sensação de pequenez face ao que se vislumbra.

Já sabia que iria encontrar um vértice geodésico, porventura aquele do qual todos os outros VGs em Portugal invejam a posição, pelo que a dado momento deixei de olhar para o recetor GPS e segui pela linha altaneira da montanha, com o olhar fisgado na linha de mar que parece não ter fim. Ao chegar ao VG, em grande desgaste, fui de imediato à procura de uma sombra e descansei por largos minutos, com o olhar entretido pelo horizonte azul. Fiz-me depois em busca do “tesouro”. Ainda ganhei algum tempo a ler os relatos que quem já lá havia ido.

Estive por ali mais algum tempo a aproveitar alguma sombra e retomei depois o meu périplo, já em grande desgaste físico e psicológico, por um risco de emoções no topo da arriba e até à planície. Depois de a água ter acabado, e com tanta vontade de encontrar alguém que me pudesse ajudar, comecei a ter alucinações. Os zumbidos dos mosquitos e das moscas pareciam vozes de pessoas. Porém, olhava para todos os lados, fazia pequenos desvios, falava aqui e além, mas não havia alguém por perto. Não estive perigos desumanos, mas o percurso transformou-se numa experiência de sobrevivência e um aviso sério para outras aventuras. Quando cheguei ao carro, a água escaldante de garrafa esquecida pareceu néctar dos deuses.

Artigo publicado em cruzilhadas.pt

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