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12 December 2016 Written by  Laranja/Tmob

Além fronteiras - Guatemala

Entre o Pacífico e o Atlântico, a Guatemala é um país que, embora tenho feito parte do império espanhol durante cerca de 300 anos, tem presente muita da sua identidade nativa.

Se existe uma palavra para descrever a Guatemala, a mais adequada é provavelmente “diversidade”. Por aqui podemos encontrar antigas cidades coloniais espanholas, ruínas da civilização Maia, extensas praias de areia, floresta húmida, actividade vulcânica, e um intenso peso cultural.

A nossa visita iniciou-se em Antigua Guatemala, geralmente referida apenas por Antigua, uma pitoresca cidade que em tempos foi capital do país. Situada a alguns quilómetros da actual capital, Antigua está hoje inscrita na lista de património mundial da UNESCO, e os traços coloniais estão bem patentes na arquitectura da cidade. As ruas pitorescas em calçada, ladeadas por casas de um piso e muito coloridas fazem de Antigua um destino turístico muito popular. Esta popularidade tem levado a que grande parte dos edifícios tenham sido recuperados segundo a traça original, e hoje em dia escondam numerosos restaurantes, cafés e unidades hoteleiras, o que tem o seu lado bom e lado mau.

No entanto, o encanto de Antigua deve-se também à paisagem que envolve a cidade, nomeadamente a proximidade de vários cones vulcânicos ainda em actividade. Numa passagem pela cidade é possível fazer uma caminhada até ao topo dos vulcões Pacaya ou Acatenango, entre outros, e em algumas horas alcançar o topo da cratera, onde em certas alturas se encontra lava ainda a temperaturas bem altas. Para os menos atléticos ou com menos tempo disponível, existem outras actividades a fazer, como subir até ao Cerro de la Cruz, cujo topo se atinge em cerca de meia hora, caminhando a partir do centro de Antigua e onde se pode desfrutar das bonitas vistas sobre a cidade e sobre os vulcões em redor. Aqui tivemos a oportunidade de encontrar a cache “Cerro de la Cruz – Pitalla” [GC1JY4J].

Os transportes públicos na Guatemala são em tudo semelhantes à restante América Central. Os autocarros geralmente são antigos autocarros escolares importados dos Estados Unidos, muitos deles personalizados pelo actual condutor com pinturas e acessórios decorativos muito coloridos, não esquecendo a música em altos berros, geralmente reggeaton ou latina. Viajar num destes autocarros pode também não ser a experiência mais confortável de sempre, os bancos foram desenhados para miúdos e não para adultos, o número de lugares disponíveis é praticamente ilimitado, uma vez que mais passageiros representam maior receita para o condutor. No entanto a experiência é, sem dúvida, inolvidável! Como alternativa existem vários shuttles que ligam os principais destinos turísticos, habitualmente um pouco mais caros do que os autocarros tradicionais, levando o viajante directamente do ponto A ao ponto B, no entanto perde-se, obviamente, muita da autenticidade.

De Antigua partimos para Monterico, na costa do pacífico. Sabíamos de antemão que não havia autocarros directos para o destino final. Uma das hipóteses era apanhar um primeiro autocarro para Escuintla, de Escuintla um segundo autocarro para Iztapa, e daí um terceiro para Monterrico. Pode parecer complicado, mas não é, estas localidades ficam todas no caminho, e os autocarros aqui são relativamente frequentes.

Por esta altura já estávamos a viajar pela América Central há algumas semanas, falamos um espanhol aceitável, e por isso chegámos ao terminal de autocarros de Antigua confiantes que apanhar aqui um autocarro seria tarefa simples. E realmente poderia ter sido se tivéssemos seguido o plano, mas quando já estávamos no terminal à procura do autocarro, no meio de toda a cor e agitação habitual, vimos um autocarro que dizia Iztapa na parte frontal. Imediatamente pensámos que a informação que tínhamos não estava actualizada e que se apanhássemos esse autocarro pouparíamos uma troca e certamente chegaríamos ao destino mais rapidamente. O dia parecia estar a correr bem. Como fazemos sempre, confirmámos com o condutor que este autocarro ia para o local pretendido e entrámos. Pouco depois o autocarro arrancou. Ainda percorríamos as ruas de Antigua quando nos pareceu que íamos na direcção errada, ligámos o GPS e confirmámos que estávamos a sair da cidade na direcção oposta ao previsto. Estranhámos e resolvemos perguntar ao motorista. “Olha lá Iztapa não é para sul? Porque é que estamos a ir para norte?” “Iztapa?? Este autocarro vai para ItZapa!”. As duas terras têm um nome bastante semelhante, mas confirmou-se que não existem autocarros de Antigua para Iztapa. Tivemos de regressar ao terminal e seguir o plano inicial. Perdemos uma meia hora nesta brincadeira, mas poderia ter sido bem mais se não tivéssemos estado atentos ao GPS.

Monterrico é um destino de praia, com vários quilómetros de areal e o local ideal para alguns dias de descanso, e porque há poucos hotéis nunca há grande agitação. Mas não foi esse o motivo que aqui nos trouxe. Esta zona da costa do pacífico é um local de desova para tartarugas marinhas. Os ovos de tartaruga são um item importante para a economia local, por este motivo há alguns anos a sua recolha foi regulada de forma a proteger as espécies que aqui se reproduzem. Esta regulação envolveu o desenvolvimento de um centro para a protecção das tartarugas marinhas. Neste centro, os ovos são incubados num local protegido, com condições controladas, e quando as pequenas tartarugas eclodem são devolvidas ao mar. É possível “apadrinhar” uma pequena tartaruga e acompanhá-la nos seus primeiros passos em direcção ao oceano. Complementarmente, o centro organiza passeios para uma “possível” observação da desova de tartarugas (é “possível observação” porque são animais selvagens, não há garantias que se consigam observar, ainda que a taxa de sucesso seja alta, pelo menos na época da desova). 

Assim, depois de escurecer, juntámo-nos a um pequeno grupo e em conjunto com o guia iniciámos a caminhada pela praia em busca de uma tartaruga pronta a desovar. Depois de se certificar que a costa está livre o animal sai da água e sobe o areal onde escava um buraco e inicia a desova, nesta altura a tartaruga entra numa espécie de transe sendo possível aproximarmo-nos sem que isso interfira com a desova. É impressionante. Para além disto tudo ainda é possível fazer passeios de barco pelos mangais para observação de avifauna. Em Monterrico não encontrámos nenhuma cache.

De Monterrico partimos para a cidade da Guatemala, a capital do país. A visita à cidade foi curta, apenas uma tarde/noite, mais uma vez é um local onde está patente alguma arquitectura colonial, a cidade tem muita vida, nomeadamente na praça principal, a Plaza de la Constitución.

Mas tínhamos outros planos e por isso, depois desta célere paragem na capital, rumamos a norte, para uma zona mais rural e onde se localiza um dos ex-libris naturais da Guatemala, o monumento natural de Semuc Champey. Ao longo do rio Cahabón distribuem-se uma série de barreiras calcárias que permitem a formação de pequenas piscinas e cascatas, tornando este local muito particular. Demorámos muitas horas a chegar a Lanquin (localidade mais próxima) e estávamos com grandes expectativas para visitar o local, no entanto, fomos apanhados por uma manifestação popular contra a forma como actualmente é gerido o local e todos os acessos estavam cortados.

Em Lanquin sabia-se que os carros não conseguiam passar devido ao bloqueio popular, mas “a caminhar” era uma dúvida. Por outro lado era suposto o bloqueio durar 3 dias pelo que não o podíamos visitar no dia seguinte à nossa chegada. Como se tratava de uma oportunidade única, resolvemos literalmente por os pés à estrada e caminhar durante 10 quilómetros. A meio caminho encontrámos o primeiro bloqueio, dezenas de manifestantes envergando cartazes e gritando palavras de ordem, para além de pedras e fogueiras no meio da estrada para impedir o acesso. Primeiramente não nos queriam deixar passar, mas depois alguma conversa lá nos deixaram seguir caminho, porque lhes garantimos que íamos só ver as vistas e não entravamos na zona do monumento natural. Acabámos por encontrar o segundo bloqueio, este bem maior e impossível de passar. Restou-nos aproveitar para dar um mergulho no rio (a jusante da zona mais impressionante) o que já fez a caminhada valer a pena. No regresso conseguimos negociar um lugar numa carrinha pick-up de caixa aberta que regressava a Lanquin levando um grupo de turista de El Salvador que estavam alojados num hotel mais perto do rio.  

Para terminar a visita à Guatemala, seguimos para Flores, uma pequena ilha no lago Petén Itzá, ainda que ligada “a terra” por uma ponte. Flores é uma ilha muito pitoresca, mas o seu grande interesse é a proximidade com o parque de Tikal, um dos maiores sítios arqueológicos da civilização Maia. No meio de paisagem de floresta luxuriante podemos encontrar seis proeminentes pirâmides e inúmeros palácios, espaços públicos e de culto. Passámos o dia a caminhar pelo meio de denso arvoredo, apreciando as ruínas. Os visitantes eram poucos o que sem dúvida dá um encanto especial ao sítio, bem mais autêntico do que outras ruínas Maias (no México, por exemplo) onde os visitantes são aos magotes, desvirtuando completamente o ambiente. Tivemos a oportunidade de encontrar duas caches GC6, a “Hot Jungle” (GC2A86) e a virtual “Mundo Perdido (Lost World)” (GCGCX7).

A visita a este parque pode ser considerado um ponto alto de uma visita à Guatemala, mas toda a viagem nos marcou bastante.

 

Texto / Fotos : Rita Monarca / Tiago Borralho (Laranja/Tmob)

Artigo publicado na GeoMagazine#23.



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