A edição de 2008, foi um sucesso um pouco inesperado, com uma participação massiva de Geocachers muito superior ao que à partida se antevia. Com o crescimento exponencial do Geocaching, não receias que o Evento deste ano tenha uma participação demasiado grande para aquilo que seria o número ideal de pessoas para conseguir leccionar as devidas explicações geológicas?
Já contando com a afluência do “pessoal do costume” e com os mais “recentes adeptos” já tomei as devidas precauções encurtando a palestra no geosítio para poder fazer a mesma com vários grupos conforme seja preciso.
Este ano também teremos a colaboração do Dr. Paulo Fonseca?
Oficialmente não, embora já me tenha prometido uma visita no dia do evento. Fica aqui o segredo desvendado que o geosítio alvo do evento deste ano foi-me comunicado pelo próprio Paulo que não quis lá fazer uma Earthcache.
Como é que nasceu este gosto pelo Earthcaching?
Ossos do ofício. Sou geólogo e muitas das caches mais míticas em Portugal aproveitaram um fenómeno geológico para mostrarem um geosítio com uma caixinha. Eu prefiro trabalhar ao contrário mostrando porque é que o local é merecedor de uma cache – neste caso uma Earthcache.
Os teus conhecimentos geológicos são uma mais valia para a qualidade das Earthcaches publicadas em Portugal. Achas que essa é a chave para a popularidade do Earthcaching no nosso país?
Para dizer a verdade nem sei se a popularidade a que te referes existe ou não. Criei a primeira na Mina de São Domingos e tenho algumas Earthcaches. Como sabes e devido a elas recebo muitos logs e já vou conhecendo quem sinceramente gosta e quem as faz por número ou para “limpar” uma certa zona. Entristece-me um pouco esta última situação mas o carácter endurece com o passar do tempo e depois de muitos logs secos a tristeza dura menos tempo e a vida continua. Nesta vida só tira partido quem quer.
O crescimento da popularidade como lhe chamas, também se deu devido à explosão de Earthcaches no nosso país. Já colaborei em várias, e também já fiz de raiz mais de 3 dezenas para outros geocachers e até agora nunca recusei ajudar quem quer que fosse (quando pedem com jeito claro). No âmbito desta fase também percebi quem efectivamente gosta ou quem quer mais um ícone no seu profile de geocacher. Talvez nesta última questão resida a popularidade das Earthcaches.
Chegaste em tempos a colaborar directamente com a Geoaware na reapreciação de algumas Earthcaches na Europa. Em que é que consistia exactamente essa cooperação? Ainda a mantens?
Na altura, essa colaboração foi no sentido de rever todas as Earthcaches existentes e assim alertar os owners para eventuais erros ou caches que não cumpriam as regras estabelecidas na altura. Também foram seleccionadas as 10 melhores Earthcaches na altura. Cumpre-me lembrar que dessa lista de dez, três são portuguesas; duas minhas e uma do PH (Bargao_Henriques).
Por vezes leio alguns logs e assisto a algumas discussões nos Forums em que os Geocachers se queixam da linguagem demasiado técnica de algumas Earthcaches. Concordas?
Não concordo nada com isso. Se um ovo é um ovo não lhe vou chamar “uma coisa oval com casca composta de calcário que sai do xxx da galinha”. Com o avançar da Wikipedia e outras ferramentas on-line os termos técnicos hoje em dia estão a poucos cliques de serem decifrados. No entanto cabe ao owner da Earthcache garantir que o sentido mantém-se e que não se usam termos técnicos por usar.
No entanto fica a advertência para os que não percebem patavina de geologia. Criam uma Earthcache e depois simplesmente copiam tudo da net sem saber o que estão a colocar na página da cache. Nesta situação as queixas podem ter fundamento porque o owner não tem conhecimentos geológicos para simplificar os temas mais difíceis.
Na tua opinião as Earthcaches deveriam ser mais complicadas, e eventualmente apenas logadas por uma pequena minoria que tem conhecimentos profundos sobre a matéria, ou pelo contrário, manter uma linguagem muito acessível que cative o gosto de leigos pela Geologia?
Não, não e sim. Não, as Earthcaches não podem ser demasiado complicadas. Isto desmotiva quem as faz e quem as cria também. Definitivamente um NÃO muito grande para que sejam somente “logadas por uma pequena minoria que tem conhecimentos profundos sobre a matéria”. Não gosto de grupos de elite no Geocaching. Sempre foi uma das coisas com o qual não concordei e será sempre uma das coisas pelo qual vou lutar contra. Sim na questão da linguagem. Enquanto estudante sempre odiei os professores que sabiam muito mas não conseguiam transmitir os conceitos de uma maneira simplificada aos estudantes.
Uma das Earthcaches que considero mais extraordinárias, é a Alchemy 101 – DP/EC32 das Minas de S. Domingos, que para além de ser num local de suster a respiração, obriga a uma tarefa prática que não apenas a observação. Não achas que o Earthcaching deveria seguir um pouco mais essa vertente, obrigando a uma maior interacção dos Geocachers com os fenómenos Geológicos?
Quando possível sim, embora haja geosítios que não se dão a este tipo de interacção. Muitas das vezes os fenómenos geológicos são bonitos de ver e interessantes de apontar mas limitativos nas tarefas.
Há muitas vozes a reclamar que tal como a Geologia através das Earthcaches, outros ramos de conhecimento científico como a zoologia ou a botânica também mereciam os seus próprios tipos de caches. Concordas?
Claro que sim mas não gostaria de ter de apanhar uma cascavel, extrair-lhe o veneno para depois poder responder quantos mililitros de veneno tem uma cascavel.
Partilhas a opinião que algumas Earthcaches não são mais que caches Virtuais, com um pretenso pretexto de interesse Geológico?
Virtuais no sentido estrito da palavra são com certeza mas tal como nas caches “normais” há melhores e piores. Também há sempre um crítico tanto para as coisas boas como as más. É difícil satisfazer todos.
A criação e manutenção de Earthcaches, parece ser à partida muito fácil, e torna-se bastante tentadora a sua criação, uma vez que não envolve a manutenção de um container físico, mas essa facilidade pode ser um pouco enganadora, à medida que a necessidade de validação vai surgindo na caixa do correio. Que conselhos poderás dar a quem está a pensar criar Earthcaches baseado nessa premissa falaciosa?
Uma cache “normal” tem um logbook que pode conter 50 folhas e por isso vamos assumir que aguenta com a visita de 50 geocachers. Uma EC tem uma a cinco perguntas que têm de ser respondidas por mail. Por experiência própria posso dizer que raramente acertam em todas e por vezes em nenhuma. Aqui surge uma dúvida existencial: deixo passar e digo que está tudo bem ou corrijo para que possam aprender? Eu escolho a última opção. Assim ao mail inicial recebido segue agora um com uma resposta esclarecedora (até tenho pdf’s criados com algumas das soluções que regularmente envio) ou por vezes a pedir que respondam de novo porque interpretaram mal a(s) pergunta(s). Este vaivém de mails pode durar uma semana ou mais.
Adicionalmente, recebo logs do estilo: “found” e “obrigado pela cache” ou mesmo um relatório completo que foi lá A, B ou C e gostou muito e viu tudo e tirou muitas fotos e blá, blá, blá. No entanto, não enviaram mail com as devidas respostas para validar o found. Assim, tenho que enviar mail a pedir as respostas senão o log vai à vida. Quando respondem, o ciclo inicia-se outra vez. Se não respondem o assunto encerra-se com um “delete log” ao fim de uma semana.
Dos 12.350 mails que tenho na minha caixa do correio dedicada ao geocaching posso dizer que 9458 (e desses não conto os mails de notificação de founds enviados pela Groundspeak que vou apagando) são de troca de informação sobre as Earthcaches que tenho. Tendo em conta as 55 Earthcaches activas que tenho e que umas são mais velhinhas que outras, podem ter alguma noção do que é a manutenção das Earthcaches. Acho que a pergunta fica respondida.
Ainda antes do advento do Earthcaching, o teu nick popularizou-se em Portugal enquanto Geocacher, como parte integrante do Lunchtime Gang (Gang da Hora do Almoço), em parceria com o Bargão Henriques, devido aos inúmeros FTF’s que faziam aquela hora, na área da Grande Lisboa. Como é que recordas esses tempos?
Para já tenho imensas saudades do PH (Bargão_Henriques) que enquanto colega de profissão e colega de trabalho viu a sua vida virada um pouco do avesso com as indefinições dos organismos de estado e pelo desprezo com que tratam alguns dos seus funcionários. Assim a sua saída deixou aqui um vazio mas felizmente manteve-se a camaradagem espectacular que perdura noutros moldes além do Geocaching.
Enquanto Gang fizemos umas boas, fizemos. Corridas para todos os lados, Arrábida, Setúbal, Fonte da Telha, Cabo da Roca, Ericeira, Mafra, tudo numas horas de almoço bem programadas. Na altura as caches eram poucas, os Geocachers poucos e muito unidos e quase uma família. Felizmente muitos dos ”irmãos” dessa família mantém-se ainda em contacto e de vez em quando ainda dão as suas escapadelas à hora de almoço.
Foram também o primeiro Team português, e único até ao momento, as ter cunhadas as suas geocoins pessoais. Como é que foi possível essa edição?
Na altura as geocoins eram uma novidade e o PH tinha conhecido um alemão que fazia de intermediário entre a Groundspeak, os fabricantes chineses, e nós clientes. O desenho já o tínhamos dos nossos autocolantes que colocávamos nos log-books. A adaptação do desenho dos autocolantes para o da geocoin surgiu em poucos minutos numa hora de almoço sem caches novas e desde o início do processo até recebermos uma caixote muito pesado pelos correios foram cerca de 3 meses.
Tivemos que financiar a geocoin através da sua venda a Geocachers nacionais e internacionais e tudo correu bem. Lembro-me na altura das contas, de cerca de 300 euros para portes de correio que absorveu qualquer lucro, mas valeu a pena. Só tenho pena de já não ter para distribuir.
De uma tiragem de 240, já não resta nenhuma para venda. A que é que deves o sucesso das vendas dessa Geocoin? À vossa popularidade?
A verdade seja dita que o número maior de geocoins foi vendido para fora de Portugal onde ninguém nos conhecia mas o sucesso talvez tenha sido uma conjunção de factores: a novidade das geocoins na altura, o desenho cómico e menos ou nada devido à nossa popularidade.
Como vês a evolução do Geocaching, e o seu crescimento desmesurado?
Uma coisa agora é certa. Caches para fazer à hora de almoço não faltam. Com a banalização dos GPS’s era inevitável que o Geocaching proliferasse tal como vemos neste momento. É bom ter novos Geocachers, felizmente alguns deles com novas ideias e infelizmente muitos que tentam reinventar a roda. Como todos querem ter a sua cache, noto, ou pelo menos tenho a sensação, que há muitas Nanos e Micros. As cidades encheram-se deste tipo de caches. Qualquer espaço, bonito ou feio, tem a sua cache. Enfim, esta vertente torna esta expansão desmesurada menos atractiva.
Ainda manténs o entusiasmo pela actividade na mesma medida em que tinhas, nos tempos áureos do Gang da Hora do Almoço?
O entusiasmo mantém-se mas infelizmente a ocupação profissional parece que ascendeu de tal forma que tenho menos tempo para actividades de lazer mas estou sempre pronto para fazer uma cachezita. Se quiserem companhia apitem.