Só depois desta conversa é que fui ver do que se tratava e constatei que era a cache dos caracteres gregos… cuja publicação tinha recebido uns dias antem mas não lhe tinha prestado atenção, porque estava um pouco longe do meu raio de acção normal.
Ler a listing da cache, transforma-nos imediatamente em Héracles, aka Hércules, com uma vontade enorme de cumprir a penitência e recuperar a honra, enfrentando os 12 trabalhos… - Se conseguirmos, seremos imortais.
O tempo não foi muito para preparar esta odisseia mas o suficiente para garantir um reforço de peso para enfrentar as criaturas terríveis nos 12 trabalhos, o geocaixas.
Hoje, antes de encarar as criaturas, foi necessário vencer um Deus… Hipnos…. Saí as 6h00 de Gondomar, no dragãomobil 4x4, em direcção a Arouca, com uma escala em São João da Madeira, onde me esperavam o d3vil e o geocaixas. O percurso até Arouca foi feito ainda de noite e debaixo de chuva, quando começou a haver alguma luz do dia, continuamos a não ver nada à nossa frente, porque havia nevoeiro…
O primeiro trabalho que nos apareceu pela frente, deixou as primeiras marcas… o dragãomobil ficou longe, por isso tivemos que enfrentar quase dois quilómetros a pé, debaixo de chuva, vento, frio e nevoeiro… Vencemos o desafio mas se fossem todos como este, não chegaríamos ao fim…
Resolvemos atacar o segundo desafio seguindo a GR 28 mas depois de passar a Portela da Anta apanhamos o primeiro susto… encontramos alguns lagos no meio do caminho e ao tentar atravessar um deles a metade do dragãomobil que passou pela água começou a afundar-se perigosamente, ao ponto da água estar quase a entrar pela minha janela e o d3vil ter de se agarrar à porta e fazer contrapeso para o dragãomobil não tombar… acho que mais um grau de inclinação e tínhamos perdido a arma secreta…
Aprendida a lição, começámos a abordar os trabalhos com outros cuidados e as coisas começaram a correr melhor. Ao mesmo tempo, o nevoeiro foi-se dissipando, apareceram as primeiras abertas e os primeiros raios de sol, mostrando toda a beleza do cenário que estávamos a percorrer.
Na abordagem ao Dragão de cem cabeças, para colher os pomos de ouro, cometemos um pequeno erro… e acabamos por apanhar um raspanete, da responsável pelo Centro de Interpretação Geológica de Canelas… Depois de explicarmos o que andávamos a fazer, tornou-se mais simpática e acabamos for passar bastante tempo a conversar sobre as curiosidades existentes no local.
Tudo acabou em bem mas a partir daí os trabalhos voltaram a complicar-se.
Acabamos por não encontrar os pomos de ouro, falhamos o acesso ao GZ onde estava o Cão Cérbero e o caminho que escolhemos levou-nos a entrar pelo meio do mato com o dragãomobil alguns quilómetros, que depois tivemos de fazer de marcha-atrás.
Com o desaparecimento da informação no 11º Trabalho, foi necessário contactar os Valente Cruz. Na tentativa de confirmar as contas, acabamos por ter acesso ao ponto final sem ter cumprido todos os trabalhos… faltava o primeiro… enfrentar o Leão de Neméia… Podíamos ter “passado”… mas queríamos a imortalidade, por isso fomos enfrentar o Leão mas acabamos por meter em trabalhos, uma aldeia inteira e os Bombeiros de Arouca…
Foi assim… Quando estávamos, apenas, a cem metros do Leão de Neméia, insistimos em levar o dragãomobil até o GZ. Haviam dois caminhos, escolhemos o errado e fomos parar a um campo, que afinal era uma armadilha… nas várias tentativas para tirar a carrinha do lamaçal (até lajes com mais de 50 Kg carregamos), foi fugindo até ficar a poucos centímetros de ir para outro campo, que estava três metros mais abaixo…
Já eram 19h00 e como era Domingo, achei melhor chamar os Bombeiros de Arouca e pedir um carro com guincho. Meia hora depois, apareceram com um camião mas não conseguiram chegar com ele até ao local onde o dragaomobil estava atascado porque o caminho era demasiado estreito. Os bombeiros fizeram alguns contactos e ficamos a aguardar…
O primeiro a aparecer foi um morador… - “O que é que se passa aqui… como é que eu não vos vi passar… só dei conta que havia “novidade” quando vi as luzes dos bombeiros…” Ou seja, houve uma falha na segurança que ele tinha montado… ia ter de tomar medidas…
Depois, chegou um rapaz novo, falou com os bombeiros e deu a ideia tentar arranjar alguém que tivesse um tractor com um guincho… Fui então com ele em direcção a casa de alguém que ele conhecia mas sem mais nem menos, para ao lado de uma casa e diz: - “Este aqui também tem um tractor com guincho… Vamos ver se está”… Por esta altura eu pensava: - Alguém, num Domingo, as 20h30, vai sair de casa, com um tractor, para desenrascar uns geocachers que nem conhecem?!…
A família estava toda reunida na cozinha mas faltava o condutor do tractor… a senhora da casa faz um telefonema… - “O Zé, tens de vir depressa, está aqui o Manel com um senhor que espetou o carro num lameiro e é preciso ir lá com o tractor…” e desligou o telefone… ou seja, a senhora nem deu hipótese ao senhor de pensar no que se estava a passar… - “Sentem-se ai um bocadinho, ele estava num café e já bem a caminho. Se o tractor tivesse luz até eu ia lá mas assim”…
Entretanto, pedi ao rapaz que ligasse aos bombeiros para tirarem o camião do caminho. Feita a chamada, ficamos a saber que também não conseguiam sair… passaram a ser dois resgates…
Mal o homem chegou, os filhos trataram de abrir as portas da garagem e sem perder um minuto, o tractor saiu e nos logo atrás, para iluminar o caminho. Já no caminho de acesso aos carros, a iluminação foi feita com lanternas mas parecia não ser necessário, o tractor foi sempre a “abrir” de marcha-atrás até chegar ao camião dos bombeiros. Entretanto, os bombeiros tinham despejado a água toda que traziam no tanque do camião para que pudesse sair. Resgatado o camião, foi a vez do dragãomobil… parecia que o tractor estava a puxar um brinquedo… em poucos minutos o trabalho estava feito… e o Leão de Neméia, vencido.
A Cache é simplesmente espectacular. O tema é irresistível, o percurso é fantástico e os containers a condizer na perfeição. O ponto final foi muito bem escolhido, é o “Grande Finale” que esta cache merecia. Não vale a pena dizer (escrever) mais nada, é uma cache dos Valente Cruz.
Um agradecimento muito especial a todos os envolvidos no resgate do drãgaomobil: Bombeiros de Arouca, que depois de avisarem que seria preciso pagar a deslocação, não cobraram um cêntimo, porque não conseguiram prestar o serviço e mesmo para aceitarem uma doação foi preciso insistir; ao rapaz, que foi um verdadeiro bombeiro e ao senhor do tractor que também não quis saber de qualquer pagamento, nem nos deu grandes hipóteses de agradecer.
O resgate ao dragãomobil acabou por ser uma verdadeira lição de vida, mostrou a solidariedade existente numa comunidade, onde todos se conhecem e onde todos se ajudam uns aos outros sem qualquer interesse. Como dizia o rapaz: - "Temos de ser uns para os outros, hoje foram vocês, amanhã podemos ser nós"…
Um abraço ao geocaixas e ao d3vil com quem compartilhei esta alucinante aventura.
TFTC