Não raras vezes surgem nos logs fotografias que marcam a diferença, pelo sujeito, enquadramento, pela cor ou textura, ou simplesmente porque nos contam uma "história" para além da palavra escrita. Com esta rubrica pretendemos desvendar a história por detrás da imagem e o contexto que lhe deu vida.
E com esta foto de hoje, publicada primeiro aqui, ficamos a par do site. A periodiciade desta série paralela de fotos com histórias dentro será dependente da inspiração do António para as divulgar.
Pico Gilbo
O Pico Gilbo marcou a nossa entrada nos Picos da Europa e para umas férias há muito desejadas. Vindos de Léon, à medida que estas montanhas majestosas se levantavam no horizonte, eu ia acumulando expetativas. Depois de passarmos por túneis e pontes, em cenários muito prometedores, chegámos à aldeia e estacionámos o veículo. Após alguns quilómetros de caminhada, tivemos uma primeira perceção das dificuldades que encontraríamos de seguida. O altivo Pico Gilbo, ao longe, ia seguindo os nossos passos, curioso, por certo, das nossas intenções. Poderíamos nós, meros humanos, chegar onde voam as águias?
A longa subida foi provocando algum desgaste e a dado momento a Ana Valente achou que ficaria por ali a descansar. Sozinho, “larguei-me” monte acima e, entre correrias ou em passo acelerado, mais rápido do que pensava, estava perto do cume. Foi então que algo de mágico aconteceu. Tudo o que possa dizer mais para descrever o que é, inesperadamente, encontrar aquele cenário entre o azul-água no fundo (que contorna o Pico em cerca de 270º), o verde-vegetação e branco-pedra é um desperdício de tempo, pois não sou capaz de o exprimir. Há certas coisas que não podem ser descritas, apenas vividas. E esta, ficará para sempre! Mal sabia eu o que ainda me esperava. Estava a cerca de 200 metros do céu e apercebi-me que o percurso seguia, literalmente, pela crista do cume. De cada lado, largas dezenas de metros de precipício. Ao meio, uma vontade enorme de alcançar o Pico. Deixei para trás o meu cajado Viriato e, com todo o cuidado que as circunstâncias exigiam, lá fui avançando com confiança. Quando dei por mim, tinha chegado ao cume do Pico Gilbo e uma satisfação do tamanho daquele gigante encheu-me o espírito.
A fotografia foi tirada na vinda da conquista do topo, sendo que o regresso já não causou tanta impressão. Quando cheguei a este local, a parte difícil já estava ultrapassada mas ainda assim a inclinação muito acentuada metia respeito. Enquanto o cérebro e a visão jogavam às escondidas com as vertigens, coloquei a máquina num pequeno tripé e fui a correr para aparecer na imagem. Foi apenas à terceira tentativa que acertei com a posição. Depois de tirar a foto deixei-me ficar por ali a apreciar a paisagem. Do outro lado do rio erguia-se outro gigante intemporal, cuja ascensão está guardada para uma nova oportunidade. Desci depois a encosta e, com um sorriso rasgado, fui contar à Ana Valente as maravilhas que tinha guardado, mais na mente do que na memória da máquina fotográfica. É também por isto que talvez não sejam necessárias mil palavras para valer uma imagem, desde que sejam as certas, nesta viagem pelas minhas fotografias com histórias dentro!
Nota: Completando o artigo nada como lerem o seu log (part1 e part2) na cache que se encontra no topo Pico Gilbo (1674 msnm.)
Se gostaste de uma fotografia e tens curiosidade em conhecer a sua história, ou se gostavas de partilhar a história da tua fotografia favorita, envia-nos a tua sugestão de "Foto com História"!