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02 July 2017 Written by 

Rotas do vale do rio Bestança

O rio Bestança, considerado um dos mais limpos da Europa, nasce nas Portas do Montemuro e atravessa um vale luxuriante. Ao longo das eras, o rio foi sulcando o seu leito, rompendo a aspereza da penedia, até encontrar o rio Douro em recantos mágicos (GC6FCRQ), perto de Souto do Rio.

Existem dois percursos pedestres que podem ajudar à descoberta deste vale de natureza encantada. O PR1 – Caminho do Prado (circular – 7 km) e o PR2 – Rota do Vale (linear – 18 km). Não será por acaso que a edilidade cinfanence tenha escolhido o mesmo contexto para a duas primeiras incursões pelo pedestrianimo. A possibilidade da escolha entre dificuldades distintas permite abranger mais caminhantes, assim haja vontade esticar as pernas pela beleza natural circundante, quer se vá do vale à montanha ou da montanha ao monte.

O Caminho do Prado desenvolve-se por caminhos e trilhos envolventes ao rio Bestança e passa pelas localidades de Vila de Muros, Covelas e Vale Verde. O percurso tem início no Largo da Nogueira, em Vila de Muros. Sendo um percurso circular, é possível escolher qualquer um dos sentidos. Descendo em direção ao rio e seguindo por uma calçada antiga, encontraremos a ponte românica de Covelas (GC1DRTG). Ainda que pareça de origem medieval, na realidade é mais recente, de estilo barroco e construída em granito.

Depois da aldeia de Covelas, o trilho afasta-se da civilização e segue por terrenos agrícolas que foram sendo abandonados ao longo do tempo. Um dos aspetos mais fascinantes deste percurso, para além da envolvência natural, reside no reencontro frequente com antigas casas que sucumbiram à inacessibilidade. Talvez não esteja tão afastado o tempo em que esse mesmo isolamento servirá como um motivo para o regresso de algumas pessoas, assim como para a reconstrução dos edifícios. Assim esperemos.

Seguindo pelas veredas, ao cruzarmos novamente o rio encontraremos o local que dá nome ao caminho. Trata-se de um refúgio recuperado, inserido num espaço bucólico e verdejante. Passando por outros prados e continuando pelo trilho, encontra-se mais uma calçada antiga que segue para Vale Verde, continuando depois por asfalto até Vila de Muros.

Sendo um percurso linear, é possível iniciar a Rota do Vale em Vila de Mouros (subida) ou nas Portas do Montemuro (GC1223G), junto à capela das Portas (descida). Fazendo o percurso no sentido ascendente, a parte inicial coincide com o Caminho do Prado. Após o prado, a rota prossegue por trilhos e caminhos que vão caindo em desuso. O abandono vai-se fazendo notar e a Natureza, sempre verdejante, parece estar a recuperar para si o que antes tinha sido emprestado ao Homem.

Perto de Soutelo, o rio encontra um dos cenários mais fantásticos do vale, quando tem de galgar as Fragas de Penavilheira (GC561AQ). A água precipita-se em três cascatas sucessivas até voltar a encontrar alguma mansidão. No sopé crescem carvalhos alimentados pela água do rio e por levadas que contornam as fragas. Vale bem a pena explorar este recanto, ainda que esteja um pouco escondido.

Logo depois das fragas encontramos um dos pontos mais caraterísticos do vale do rio Bestança, a ponte de Soutelo, datada da época medieval. Construída em pedra, com um arco de volta perfeita, é formada por lajes de grandes dimensões e parece enquadrar-se muito bem na paisagem envolvente. Chegando a Bustelo, é possível visitar a eira comunitária da aldeia, que vai resistindo aos ritos da modernidade.

 

À medida que nos afastamos do rio, as encostas tornam-se mais escalvadas. Porém, olhando para trás, consegue-se açambarcar o vale numa visão inteira e verdejante. Mais acima, depois da aldeia de Alhões, as Portas do Montemuro marcam o final de uma caminhada com muitos motivos de interesse, num dos vales mais fantásticos do Douro.

Recomenda-se ainda uma visita à Quinta do Paço da Serrana (GC309M8), votada ao abandono e que possui uma posição privilegiada sobre o rio Douro. De um valor patrimonial e natural inestimável, pertenceu à família do famoso explorador africanista Serpa Pinto. No final, ficará certamente a vontade de regressar a este vale encantado.

Artigo publicado na GeoMagazine#26 e em cruzilhadas.pt.

 



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