De passado histórico distinto, as aldeias de Idanha-a-Velha e Monsanto são dois pontos de visita obrigatória na zona de Idanha-a-Nova. A primeira, importante na altura em que os romanos se passeavam pela Ibéria, foi uma cidade outrora chamada de Egitânia. A segunda, possuidora de um castelo que teve como principal função defender o reino de Portugal contra Nuestros Hermanos. São ambas verdadeiras aldeias-museu, pelo que merecem ser visitadas e revisitadas. E, se possível, com tempo!
Aproveitando uma viagem de três dias à região, dedicámos o segundo dia a conhecer estas Aldeias Históricas de Portugal. Primeiro Monsanto e depois Idanha-a-Velha.
Ainda cedo, saímos da Pousada de Idanha-a-Nova... Rumámos para Nordeste, e em muito pouco tempo já se avistava o primeiro ponto de visita do dia. Lá longe, um amplo promontório se destacava das vastas planícies que o rodeavam. Era Monsanto, a “aldeia mais portuguesa de Portugal”.
Logo à entrada, ainda no sopé do monte, surgem as primeiras casas. De aspeto rústico, claramente mais recentes que as da parte cimeira da aldeia, como que nos dão as boas-vindas. Vamos então subindo, e à medida que estamos cada vez mais alto, entramos num ambiente que mais se assemelha a um pequeno presépio meticulosamente criado. As casas, quase todas em pedra, possuem uma ornamentação muito engraçada; as ruas são estreitas e na sua maioria apenas a pé se consegue viajar nelas; e lá no alto um imponente castelo. Porém, o que faz desta aldeia tão única é um outro facto, foi a capacidade do povo que, ao longo dos tempos, a foi criando, ter sabido aproveitar os recursos naturais do monte, e nele construir edifícios literalmente debaixo de enormes pedras! Daquelas que parecem ao mínimo tremor destruir tudo o que está à sua frente. Simplesmente fantástico!
Ao chegar à parte mais alta da aldeia, optámos por seguir o PR5 “Rota dos Barrocais”. Um percurso pedestre que circunda a aldeia, e que nos prometia levar até ao castelo por um percurso diferente do turístico normal. Porém, ainda antes de lá chegar surgiu um outro ponto de paragem. Encostados um ao outro, dois enormes penedos como que se assemelham a dois amigos sentados a desfrutar das vistas que rodeiam o monte. Por baixo de si um grande túnel. Tão grande que claramente um gigante de 4 metros não teria problemas em passar em pé. Deram-lhe o nome de “Penedos Juntos”.
Segue-se então o Castelo de Monsanto. Hoje, apenas ruínas, acabou abandonado quando no século XVIII um relâmpago atingiu a casa das armas e explodiu com o mesmo. Consta que não foi um cenário nada bonito. Porém, a sua longa história, que se inicia no século XII, conta com uma destruição seguida de uma recuperação e ampliação, dois cercos falhados e muitas mas mesmo muitas histórias. Ai se aquelas pedras falassem!
Seguiu-se Penha Garcia. Embora esta não seja considerada uma aldeia histórica, também merece uma visita. As razões, é melhor mesmo lá irem perceber por vocês mesmos. Não se vão arrepender.
Para terminar o dia, Idanha-a-Velha. Embora esta diste a uns meros 3/4 Km de Monsanto, a sua história remonta à época dos Romanos. Era uma importante cidade romana que servia de ponto de paragem para quem circulava na Estrada Romana de Merida Augusta (atual Mérida, Espanha) e Bracara Augusta (atual Braga, Portugal). Mas não só! Pensa-se que o rio Pônsul, que passa na aldeia, era na época diferente do que é hoje. Seria um rio navegável, onde os romanos podiam mais rapidamente escoar as suas mercadorias, poupando custos e tempo. E seria talvez esse o principal motivo para a grande relevância da Egitânia nesse período.
À nossa chegada, os céus brindaram-nos com alguma chuva. Meia hora no carro até que finalmente pudemos sair à descoberta da aldeia. Para começar, as muralhas. Embora a cidade romana não fosse possuidora de um verdadeiro cerco muralhado, estas foram sendo ajustadas ao longo dos tempos. Seguiu-se a ponte romana. Parte da via romana, que já falámos, ainda hoje se encontra muito bem preservada. Entrámos então na aldeia, e dado o escasso tempo até anoitecer fomos diretos para outro ponto interessante na aldeia – a Igreja de Santa Maria. Ou se preferirem, Mesquita Catedral de Idanha-a-Nova. Sim, porque embora hoje esteja associada à fé cristã, foi convertida em Mesquita aquando da passagem dos Mouros, logo após os Romanos. Logo ao lado, um outro motivo de interesse. São centenas de registos romanos esculpidos em pedra, onde podemos passar seguramente uma tarde a aprender latim, sem que consigamos decifrar todas as mensagens lá escritas. Muito engraçado!
Para terminar a visita, fomos novamente até às margens do Pônsul e ficámos a conhecer o que são poldras. E não, não são éguas jovens, mas sim pedras dispostas de forma linear ao longo do rio que nos permitem atravessar o mesmo sem molhar os pés! E por ali certamente que muito boa gente já terá passado.
Estava então terminada a visita às aldeias históricas de Idanha-a-Nova, e era tempo de regressar à Pousada. Para trás ficavam boas memórias, e acima de tudo muito conhecimento histórico que nos ajudaram a perceber um pouco mais da História do nosso Portugal.
Texto/Fotos: DEXcobertas (João e Joana)
Artigo publicado na GeoMagazine #25.