Sempre gostei de caches solitárias. Mistérios impossíveis ou locais remotos, abrir aquela caixa escondida durante meses ou anos sem que outra pessoa a tivesse encontrado é uma sensação única no geocaching. Então quando descobri uma utilidade que o Project-GC tem para encontrar caches remotas por área, claro que tive de a experimentar. Foi assim que descobri as caches de SiriNeos: Longas travessias de vários dias nos Pirinéus, muitas tendo sido encontradas apenas uma vez. A mais velha, "Mi Querida Llardana", escondida em 2008 encontrada apenas uma vez, em 2011. Claro que decidi ir fazer aquela, não envolvia escalada ou terreno difícil, apenas caminhada – muita caminhada.
Planeámos a viagem para a segunda metade de Julho, o plano era chegar ao vale na terça-feira à tarde, e depois fazer a cache nos quatro dias seguintes. Para além de que uma semana antes reparei que estava perto da milestone 1000, e decidi que deveria ser esta. Depois de rapidamente aumentar o meu número de founds e contando cuidadosamente as caches restantes, dormimos no vale Benasque, nervosos com o dia seguinte. De manhã, estávamos prontos para partir. Depois de olhar para a previsão do tempo (chuva) começámos a caminhar ao longo do vale Estos, para a primeira caixa da cache. Felizmente, a chuva chegou até nós a pouco menos de um quilómetro de um refúgio na grande montanha na profundeza do vale, e nós chegámos lá antes de estarmos completamente encharcados. Cerca de duas horas depois a chuva tinha parado e percorremos o último bocado até à localização da caixa. Quando finalmente lá chegámos, e rapidamente reconhecemos a imagem spoiler, começámos a nossa busca; procurámos e escarafunchámos até que aceitámos a verdade: não estava lá. 5 anos tinham feito as suas vítimas, e algum pequeno animal tinha a sua casa por baixo da grande rocha onde a cache já tinha estado; apenas encontrámos pequenos pedaços de plástico e um afia enferrujado.
Fizemos a única coisa que podíamos: continuar com a rota planeada e esperar encontrar rede de telemóvel nalgum lugar. Infelizmente, isso não aconteceu. Passámos a noite perto do belo Perramo Ibon (termo local para lago de montanha), e no dia seguinte descemos dos 900 metros de altitude para o nosso ponto de partida. Eu tinha uma ideia de onde a segunda caixa poderia estar, e procurei durante um pouco com a imagem spoiler, mas sem sucesso.
Uma vez em Benasque, enviei emails para o owner e para quem tinha sido o último a encontrá-la, na esperança de que eles respondessem no mesmo dia. Felizmente, depois de algumas horas, recebi resposta com as coordenadas de todas as caixas que constituem a cache, o que nos permitiu continuar no dia a seguir. O segundo percurso foi o nosso favorito, não vimos uma única pessoa durante todo o dia, e a paisagem era bonita e muito diversa, de uma floresta densa a vales gelados, passando por um leito do vale plano com um rio e uma bela cascata. Também tivemos chuva bastante intensa, até mesmo com alguns pequenos períodos de granizo e felizmente encontrámos refúgio numa pequena cabana. Mais tarde, conseguimos encontrar a caixa, mas em algum momento nos 5 anos, a água tinha entrado e tudo estava molhado. Felizmente, pensei que isso pudesse acontecer e trouxe um pré-forma para usar nestes casos… Onde está? Oh! Claro que sim. Deixei-o no carro. A 5 horas daqui. Por isso secámo-nos o melhor que conseguimos e continuámos.
Tendo as coordenadas para a cache final, o último dia foi também o percurso mais curto. Mais ou menos a meio passámos uma formação geológica interessante onde o rio desaparece para um buraco e atravessa a montanha, e observei as respostas de uma earthcache lá (#999). Aí, claro está, choveu e finamente chegámos ao último ponto, num lago perto de uma passagem de montanha. Os metros finais foram excitantes; será que a cache lá estaria depois de todos estes anos? Faltam 50 metros…. Tem de estar naquelas rochas além, eu reconheço a imagem spoiler, faltam 20 metros…. 15… 10…. Cheguei lá, comecei a afastar rochas, e aí! Um saco branco! Depois de afastar um monte de pedras, finalmente tinha a cache nas mãos e abri-a, em perfeitas condições, como no primeiro dia. Muito animadas escrevemos uma nota longa no logbook e tirámos um monte de fotografias daquele belo local, muito felizes por pormos um fim bem sucedido à nossa viagem. Apreciámos muito os caminhos e iremos definitivamente fazer outras caches do SiriNeos; ainda existem algumas para desfrutarmos. É uma pena porém, que tão poucas pessoas experimentem estas belas montanhas desta forma.
Artigo publicado na GeoMagazine#22.