Neste número não vos trazemos uma típica Aldeia mas uma castiça Vila, a Vila de Alpedrinha, pertencente ao concelho do Fundão e situada na encosta da Serra da Gardunha. O conjunto arquitectónico e natural, revestido de grande beleza e o facto de se espreguiçar na encosta da serra valeu-lhe mesmo a alcunha de "Sintra da Beira".
A localidade remonta à ocupação pré-histórica, sendo que é da ocupação romana que subsistem ainda alguns vestígios.
Foi com grande surpresa que, apesar de fazer parte do nosso roteiro de fim de semana, parei o carro no interior da localidade e me apeei. Confesso que não ia preparado para uma tal tipicidade, principalmente por não se perceber bem isso da estrada principal. Estacionar o carro no interior foi realmente uma tarefa "morosa", vá, devido às ruas sinuosas e à impossibilidade de mudar de direção com apenas uma ou duas manobras. Aquilo que nos deu um gozo imenso de percorrer a pé podia ter-se tornado, mesmo, uma bela de uma armadilha para o carro.
Existe um providencial percurso pedestre pela parte mais antiga e é assim com enorme simplicidade que vencemos as curvas de nível, becos e escadas em busca dos inúmeros (não serão inúmeros mas são mesmo muitos) monumentos interessantes e das mais que muitas casas senhoriais, tudo muito bem arranjado e conservado.
"As suas ruas típicas, com traçado medieval, de bonitas varandas, casas de cantaria, e recantos floridos, onde impera a paz de espírito, são (...) importantes patrimónios de Alpedrinha, com orgulho nas suas muitas fontes e chafarizes (...)"... Este podia bem ser o cartão-de-visita, a entregar aos benventurados turistas que tenham a sorte de a eleger como destino para umas horas bem passadas. Não foi uma nem duas vezes que nos passou pela cabeça que Alpedrinha pudesse derivar de Alpendre ou similar, tal é a quantidade de casas que ostentam lindíssimas e adornadas varandas!
Muitas destas são hoje em dia unidades hoteleiras, tendo sido abandonadas pelas famílias proprietárias com a queda do "antigo regime" e recuperadas agora para o turismo.
Alpedrinha terá sido também a localidade mais fustigada do concelho de Castelo Branco pela... "Ei! Espera lá!! Não é no Fundão?!" "É, mas não era! Posso contar o resto?”... de Castelo Branco pelas invasões francesas (só passou para a alçada do distrito do Fundão em 1885, quase oitenta anos depois da primeira incursão dos “franciús”). Podia tentar adaptar para aqui um pouco dos relatos destas "visitas francófonas" mas são realmente um pouco pesados demais para serem esmiuçados no âmbito de um hobbie que se quer ligeiro como o nosso. Fiquem apenas com a breve ideia de ver os amigos do Messena a "passear" pela pobre vila. Tais acontecimentos trouxeram para aqui verdadeiros aquartelamentos Portugueses e Britânicos.
Noutro registo, foi daqui natural o ilustre D. Jorge da Costa, famoso Cardeal de Alpedrinha que chegou a ter o governo de toda a Igreja Portuguesa (e só não terá sido Papa porque recusou) e a quem se deve a criação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, tendo também um importante papel no Tratado de Tordesilhas.
Além das referências que estão lá em baixo, no final do texto, podemos retirar mais algumas informações da listing da geocache que, desde inícios de 2008, adorna a zona, "A vila de Alpedrinha" [GC182FX]. Gostava muito, mesmo muito, de vos dizer a minha opinião da cache, mas não posso! Depois da bela passeata pela vila, quando nos tentávamos orientar pelo GPS para o GZ (o que não é nada fácil) começou a chover a bom chover e nem o carro foi fácil de descobrir! :D
A única "reclamação" que tenho desta Vila é a dificuldade em se conseguirem boas e representativas fotografias da beleza dos edifícios e ruelas! Os edifícios são demasiado altos e as ruelas demasiado estreitas! De tal modo que não tirei uma única foto!
Texto: Rui Duarte (RuiJSDuarte)
Fotos: António Almeida (AJSA)
Referências:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_da_Costa
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alpedrinha
http://www.guiadacidade.pt/pt/poi-alpedrinha-15026
http://jfalpedrinha.no.sapo.pt/Alpedrinha/historia_alpedrinha.htm
Artigo publicado na GeoMagazine #20.