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10 August 2011 Written by  Flora Cardoso

Geotalk - geoPelegrins

No passado dia 25 de Julho a geo-comunidade ficou de olhos postos na Catalunha! Esta província autónoma espanhola viu nascer um mega trail de 1001 caches ao longo do Caminho de Santiago, uma rota que por si só já atrai milhares de caminhantes do mundo inteiro, todos os anos. Os geocachers têm agora a possibilidade de trilhar o mais antigo itinerário cultural da Europa, praticando simultaneamente o seu hobbie favorito! O GeoPt.org conversa hoje com Sònia Oliveras i Artau, uma das responsáveis por este projecto!

Olá Sònia! Gostava de te perguntar em primeiro lugar quem são os geoPelegrins, responsáveis pela parte criativa e conceptual deste mega roteiro catalão de geocaching? 

Somos um conjunto de 20 equipas de geocaching Catalãs, a maior parte com uma longa experiência na prática deste jogo. O que nos uniu foi a vontade de realizar um grande projecto que se tornasse referência na Europa, com reconhecida qualidade, e que servisse de propósito para os geocachers conhecerem a Catalunha sob uma perspectiva diferente.

Versão Espanhola

Podes nos explicar como nasceu a ideia deste mega trail de geocaches? Como surgiu a vontade de criar um itinerário de geocaching no trilho mítico do Caminho de Santiago?

Um pouco como começam todas as loucuras colectivas: alguém atirou uma ideia para o ar, comentou-a em privado, a ideia circulou entre um pequeno núcleo de equipas durante um dos habituais eventos de geocaching que costumamos programar aqui na Catalunha. Muito rapidamente gerou-se uma expectativa, nasceu a vontade e firmou-se um compromisso. Desde o início ficou decidido que as equipas que viessem a integrar o projecto assumiriam dois objectivos: a ambição por um projecto de grande envergadura, bem executado; e a paixão em promover a Catalunha. Juntando ambas as ideias, o brainstorming colectivo identificou de imediato o Caminho de Santiago como meta, de um extremo ao outro da Catalunha, e assim nasceu o projecto CSJ (Camí de Sant Jaume).
Provavelmente, a chave para que este projecto se tenha concretizado num período de tempo tão curto, está na combinação de vários factores: o compromisso para com o projecto, a diversidade das pessoas que se dedicaram ao geoPelegrins, a atitude democrática para conseguirmos padrões consensuais e a liberdade que as equipas tiveram para expressar o seu talento como geocachers, no desafio pelo qual se responsabilizaram.

Planear um roteiro de mais de 1000 caches é um projecto muito ambicioso! Podemos ver na vossa página http://es.geopelegrins.cat algumas fotografias e explicações sobre a elaboração dos containers, logbooks e geoSelos, totalmente caracterizados à imagem do projecto geoPelegrins! Como organizaram a produção, e como foram distribuídos os containers pelas várias etapas do percurso?

Embora o vídeo do making-of possa transmitir a sensação de uma produção em série, a verdade é que não foi assim! O trabalho de concepção e fabrico das diferentes componentes das caches (containers, logbooks, camuflagens, carimbos, stashnotes, etc) foi bastante artesanal e esteve distribuído entre todas as equipas. Depois de chegarmos a um acordo de base, onde convencionamos os 4 tipos de containers e os 3 tipos de logbooks a usar, bem como alguns critérios comuns na forma de esconder as caches (distância média entre caches, coordenadas a delimitar as etapas, procedimento, esconderijos a evitar, etc.), cada equipa assumiu a responsabilidade em reunir o material de que necessitava e dedicou-se de forma completamente autónoma a produzir as caches, a escondê-las e a determinar as coordenadas.

Depois de identificadas as etapas nas quais ia ser dividido o projecto, cada equipa assumiu o compromisso de criar e manter uma das referidas etapas. Uma das primeiras actividades realizadas consistiu no reconhecimento pedestre dos quase 400 kms de itinerário. As equipas responsáveis de cada etapa planearam várias saídas de terreno, que eram atempadamente divulgadas aos restantes geoPelegrins, de forma que outras equipas se pudessem juntar aos trabalhos de reconhecimento em função da sua disponibilidade.

Um dos elementos chave para o sucesso, a boa organização e o cumprimento do timing previsto, foi o uso de ferramentas on-line partilhadas: calendários, folhas de cálculo, grupos e contas de correio electrónico…e, é claro, não faltaram as reuniões presenciais, que foram escassas mas muito produtivas, e por ocasião acabaram por ser uma boa desculpa para irmos à procura de algumas caches pela zona.
Talvez o que melhor caracteriza os geoPelegrins é a sua total independência: todo o material produzido para o projecto (logbooks, ficheiros GPX, cadernos de bordo, Web, logótipos, stashnotes, carimbos…) foi desenhado por alguns de nós. E aquilo que não pudemos fabricar (como os containers), foi auto financiado. A logística de compras acabou por se revelar muito eficiente, deste modo o contributo económico que cada equipa teve que conceder foi realmente muito razoável.


Contando com a supervisão e coordenação do projecto, a produção dos containers e material de apoio, a colocação no terreno e a elaboração das listings, tens uma ideia do número total de pessoas que foram envolvidas na realização deste projecto?

O grupo geoPelegrins é actualmente formado por 20 equipas, o que na prática se traduz em aproximadamente 40 pessoas. Contudo, há que ter em conta aquelas equipas que nos prestaram pontualmente apoio ao longo da realização do projecto; entre umas e outras, foram possivelmente mais de 50 pessoas que colaboraram, tornando possível a concretização deste projecto.

Desde a ideia original até à publicação das caches, quanto tempo ao todo demorou o desenvolvimento do projecto geoPelegrins?

A primeira reunião que serviu para definir as equipas que viriam a incorporar o projecto CSJ, teve lugar em Fevereiro de 2011. Assim, passaram 5 meses desde que se iniciou o projecto até ao momento em que foi publicada a série, numa data emblemática: 25 de Julho, dia de Santiago.

Ao longo do percurso os geocachers terão oportunidade de encontrar, em cada etapa, uma letterbox com um geoSelo, que poderão carimbar na geoCredencial fornecida na vossa página! Esta é uma analogia ao passaporte do Pelegrino? Com que intuito criaram esta geoCredencial?

Efectivamente, houve o cuidado de estabelecer analogias entre a peregrinação a Santiago e a realização da série de geocaching CSJ. Para além de nos mantermos fiéis ao traçado do caminho e estruturar as etapas de forma a coincidirem com etapas clássicas do mesmo, achamos que os geocachers se sentiriam mais próximos do papel de peregrino se pudessem imitar alguns dos seus rituais. Em conversas com membros de associações de peregrinos surgiu a ideia de fazer uma geoCredencial que fosse carimbada ao longo do caminho, na proporção de um selo por etapa. A diferença entre a credencial do peregrino e a geoCredencial, é que nesta última o conjunto de selos acaba por formar um desenho com o traçado completo da série. Cada selo tem o seu espaço reservado na geoCredencial. Colocamos uma nota explicativa em cada letterbox-hybrid, que contém um carimbo. Pelo feedback de que dispomos, 10 dias depois da publicação da série, a geoCredencial está a ser um grande sucesso.


1001 caches é um número especial e simbólico! Com uma quantidade de caches tão significativa, qual é a vossa estratégia para a manutenção dos containers? Quem são os responsáveis pela supervisão da saúde das caches e reposição de logbooks?

Estabelecemos um protocolo de manutenção, que neste momento se encontra na fase alfa, e que depois de testado e corrigido dará lugar a um protocolo definitivo. Na sua essência, as equipas responsáveis pela concepção e pela colocação de cada secção são também responsáveis pelo acompanhamento das incidências, pela verificação no terreno, pelas correcções que se afigurem necessárias (melhorias na camuflagem, ajustes no esconderijo, substituição, etc), actualização de listings e também da actualização da base de dados que nos serve de referência para produzirmos os cadernos de bordo e os ficheiros GPX. Contudo, as restantes equipas são co-responsáveis na manutenção no terreno, e por isso trazem consigo material de reparação e de reposição quando visitam o percurso, quer se trate da etapa pela qual são responsáveis, quer se trate de outro troço da série. Além disso, existe uma monitorização contínua do conjunto de caches, para assegurar que nenhuma tenha que ser desactivada, e uma equipa de informáticos está encarregue da execução de novas versões dos cadernos de bordo, ficheiros GPX e Web, onde são corrigidas coordenadas e onde se descrevem as melhorias de que as caches foram alvo.

Sònia, alguns geocachers lamentam a aparição dos chamados geo-powertrails, pois consideram que a massificação dos containers é uma menos valia para o jogo, ao referenciar locais de interesse reduzido, ou mesmo nulo. Argumentam também que, com o passar do tempo, a manutenção às caches perde muitas vezes a eficiência, correndo-se o risco de ver crescer o tão indesejado geo-litter. Qual é o teu ponto de vista sobre este tema? A vossa equipa ponderou estas questões ao longo da elaboração do projecto?

Sem dúvida, a filosofia do projecto geoPelegrins não se enquadra na realização de um powertrail que faça crescer rapidamente as estatísticas de “found it” das equipas que o visitam. A prioridade, como foi comentado atrás, era procurar um eixo de referência histórico e cultural; adaptamo-nos a ele, assumindo assim uma grande variedade nas condições de terreno e na disponibilidade de esconderijos. Ainda que tenhamos tido o cuidado de unificar toda a série, os responsáveis de cada uma das 16 etapas tiveram uma grande liberdade na escolha dos esconderijos e nos procedimentos de camuflagem. De certa forma, a grande variedade de caches ao longo de toda a série, bem como a heterogeneidade de paisagens e de climas que atravessa, fazem com que esta rota se afaste definitivamente do conceito de “powertrail”, palavra que provavelmente não é muito adequada para definir o projecto CSJ. Na realidade, a experiência no terreno dos geocachers que venham visitar o conjunto da série será variada, já que, embora haja uma lógica comum no projecto CSJ, quer ao nível técnico que do ponto de vista da filosofia, na prática em cada secção o geocacher vais enfrentar desafios diferentes, que foram projectados por equipas distintas; assim, de certa forma o CSJ também pode ser encarado como uma sucessão de 16 séries de caches. Talvez todo este projecto possa resultar numa metáfora sobre a forma como, há 1000 anos, os contributos de diferentes territórios europeus permitiram criar o Caminho de Santiago, e como este foi, por sua vez, um dos elementos culturais unificadores da Europa. 

Como descreves o geocaching na Catalunha? É uma região dinâmica, com uma comunidade entusiasta e activa? Encontros e eventos são habituais no vosso geo-calendário?

A Catalunha é, juntamente com Portugal, o território Ibérico com mais densidade de caches e de geocachers. A curva de crescimento da prática deste jogo na Catalunha é exponencial, e está neste momento em plena fase de acelerada expansão. No espaço de dois anos, o número de caches existentes praticamente quadruplicou. No entanto, a série não gerou qualquer efeito de saturação de caches; o projecto CSJ cruza precisamente zonas da Catalunha interior onde praticamente não existia actividade de geocaching. Por outro lado, nas zonas de maior densidade, como as zonas urbanas, assumimos não colocar caches, para possibilitar que novos geocachers locais (alguns dos quais, esperamos, possam surgir com a passagem do CSJ nas suas localidades) tenham espaço para por à prova o seu geo talento.

Na tua opinião, o projecto geoPelegrins é um bom cartão de visita para estrangeiros que pretendem visitar a vossa região? O que é que os geocachers ficarão a conhecer da Catalunha ao realizar este percurso? 

A Catalunha tem um enorme potencial turístico, que se deve em parte a 4 ícones de grande prestígio: Barcelona, Pirenéus, Costa Brava e Costa Dourada. No entanto, dispõe de um potencial mais vasto e pouco explorado além de Barcelona, da neve, do sol e da praia. O nosso projecto chega numa altura em que o governo catalão pretende introduzir mudanças no paradigma turístico do nosso país, projectando-o claramente até às zonas do interior e realçando o seu extraordinário e diverso património natural, cultural e histórico. O Caminho de Santiago é um eixo que transpõe território, história e património, e representa uma verdadeira aposta para o nosso governo. Não será ao acaso que a série CSJ passa justamente por aqui.


Pensas que o projecto geoPelegrins poderá servir de ponto de partida para iniciativas semelhantes em outras regiões? Poderá haver continuidade deste roteiro de geocaching em outras etapas ao longo do caminho, quem sabe até Santiago de Compostela?

Eh eh eh...Uma semana apenas depois da publicação do projecto CSJ, verificamos que em alguns fóruns franceses já se especula sobre a possibilidade de haver continuidade da série na parte do caminho localizada em terras de Gália. Tomara que este projecto vá para a frente e que o possamos geminar com o nosso! Por outro lado, a nossa série acaba praticamente no limite com a região Aragonesa, é portanto um piscar de olho aos geocachers vizinhos, esperamos que se animem. Por fim, é bom lembrar que outros dois trechos do caminho de Santiago, que percorrem Castela e Leão, contam com respectivas séries de caches, neste caso sob o patrocínio do governo castelhano - leonês. De recordar também que em França existe uma série de 29 caches num pequeno troço do caminho aragonês. 
A verdade é que, se alguém ganhar ânimo para dar continuidade geográfica à serie, de um lado ou de outro da Catalunha, os geoPelegrins terão todo o gosto em prestar ajuda e apoio.

Obrigada Sónia pela disponibilidade em responderes às nossas questões, e parabéns por este ambicioso projecto. Esperamos que muitos portugueses fiquem com vontade de partir à descoberta deste roteiro, do Caminho de Santiago e da bela região da Catalunha!

Só temos a agradecer! Sentimo-nos muito honrados pelo interesse demonstrado neste projecto, no qual depositamos muitas expectativas! Teremos muito prazer em receber os geocachers portugueses que nos queiram visitar, e disponibilizar todas as informações e auxílio que nos possam solicitar.

Estamos à vossa espera!

geoPelegrins



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