Regresso ao fantástico vale da Pena Amarela, na Serra da Freita, para revisitar o percurso superior da ribeira, desde Cando até às minas da Rota do Ouro Negro. A primeira visita ocorreu há mais de uma década, numa série de três aventuras que contemplaram uma ida à base da cascata superior, a descida até às minas e a subida desde a ponte de Bouceguedim pelo leito da ribeira. Numa escala de inconsciências do que não voltaria a fazer pelo acrescento natural de juízo pelo avançar da idade, esta experiência ficará apenas atrás da subida da Fraga das Pastorinhas.
Estacionei em Cando entre as brumas de um dia novo, onde já estavam o João, o José e o Fábio. Na viagem, a partir de Arouca, alguns pingos de chuva começaram a levantar suspeitas sobre se seria possível fazer o percurso. Lá cima, perto dos mil metros de altitude, os pingos tinham-se transformado em farrapos de neve, que caíam com maior frequência. Apesar das dúvidas, mas preparados para a meteorologia, decidimos manter os planos e iniciámos o percurso na direção à crista montanhosa que divide o vale da Pena Amarela e o vale de Rio de Frades. Os farrapos de céu mantiveram-se em toda a descida, mas passaram de neve a chuva miudinha. Pelo meio fizemos um pequeno desvio para acedermos a um miradouro sobre o vale e a cascata superior da Pena Amarela. E só por esta descida panorâmica já teria valido a pena.
Chegados às minas, junto à ribeira, aproveitámos para ir um pouco mais adiante na Rota do Ouro Negro e para uma primeira paragem de alimentação. Iniciámos depois a subida pela ribeira em direção às Goelas do Mundo. Esta parte do percurso excedeu as melhores expetativas, cujas recordações já estavam um pouco adormecidas. Talvez pelo seu isolamento e pelo leito da ribeira ser suficientemente cavado e luxuriante para não permitir incêndios, parece ter-se mantido intocável ao longo das eras. Alternando entre as margens, o trilho está bem marcado e é relativamente fácil de intuir. Apesar de ser um percurso técnico, os obstáculos não são difíceis de ultrapassar, sendo que em algumas partes existem cordas a auxiliar as passagens, como na lagoa que antecede a subida pela crista das Goelas do Mundo. Algures a meio do percurso deixou de pingar e as roupas foram secando naturalmente.
Saindo da ribeira, iniciámos a subida pela crista da encosta, com uma ascensão de mais de 400 metros de altitude em menos de 1 km. Antes de mais, é de notar o impressionante trabalho de limpeza que foi realizado. Apesar da tecnicidade natural para progredir, não é muito difícil, sendo que a ausência de alternativas pela vegetação densa torna fácil perceber por onde segue o trilho. Pelo meio ainda fizemos um desvio para aceder à cascata em escadaria da ribeira e logo depois aproveitámos para almoçar. Ao longo da subida, à medida que ganhávamos uma vista mais inteira do vale, deu para relembrar outros locais por onde tinha passado na primeira incursão. Ao chegarmos ao miradouro ainda estivemos a conversar com uma habitante de Cando, que nos viu partir e ficou curiosa no nosso regresso. Deu ainda para conhecer melhor a nomenclatura dos locais visitados.
Para o final da aventura estava reservada uma tentativa de acesso à base da cascata superior da Pena Amarela. Acabou mesmo por ser apenas uma tentativa, visto que as condições mudaram um pouco pelo último incêndio. Dado o terreno muito inclinado e escorregadio, havendo menos arvoredo, nomeadamente giestas, torna-se mais difícil descer. Assim, resolvemos não arriscar. Ao voltarmos para trás apanhámos o trilho que nos haveria de levar a Cando, com mais uma agradável surpresa na descoberta de mais uma cascata junto à aldeia. Apesar de limpo, o percurso não está sinalizado (ver/descarregar o trilho aqui). Sem ser demasiado difícil, é desafiante o suficiente e verdadeiramente fantástico pela natureza envolvente. Foi um prazer regressar à Pena Amarela em excelente companhia.
Artigo publicado em cruzilhadas.pt