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12 July 2019 Written by 

Ultra Trail Douro Paiva 19

Respeitando a tradição de participar numa prova de ultra trail por ano, a escolha deste acabou por recair no Douro Paiva. E antes que alguém se questione, acrescento alguns esclarecimentos: não é uma promessa religiosa; não fiz mal a ninguém e/ou não roubei nada que me obrigue a correr durante tanto tempo; a inscrição paga-se e várias vezes durante as provas questiono a minha sanidade mental. Apesar de tudo, ou mesmo talvez pelas razões referidas, o mundo do trail continua a fascinar-me. Não é propriamente pela vertente competitiva, mas sobretudo pelo desafio de superar desafios em trilhos técnicos de montanha. Nesta prova, acrescia o interesse da progressão pelo Vale do Bestança.

Como habitualmente, os treinos decorreram com percalços. Para além da preguiça de quem vai recomeçando à medida das necessidades, uns três meses antes ressenti-me de uma entorse, fiquei algum tempo parado e convenci-me que o melhor seria alterar a inscrição para os 40 km. A mês e meio da prova lá comecei a treinar duas vezes por semana, alternando distâncias, mas mantendo uma dificuldade ao nível planura marítima. Como sempre, o objetivo era sentir-me bem e ficar na metade inferior da tabela classificativa. Esta prova seria também a primeira em que usaria bastões.

Levantei-me um pouco antes do sol e lá segui para Cinfães, subindo o Douro. Levantar o dorsal trouxe um suspense inesperado, porque estive na fila errada e tive de correr para chegar à meta momentos antes do tiro de partida, atando como podia o chip da prova aos atacadores dos calções, facto do qual me haveria de arrepender mais tarde. Após o tiro de partido segui lesto pelas ruas de Cinfães, descendo depois em direção do rio Bestança. Na inclinação favorável todos os santos ajudaram; na regresso, todos os diabos haveriam de me contrariar.

Tudo correu bem até seguir o engano de um grupo que desceu sem necessidade quase até ao rio. Apenas me apercebi quando vi alguém a subir desanimado. Corrigido o engano, o percurso torna-se muito interessante, sempre rodeados por uma Natureza fantástica, galgando leiras e antigos trilhos agrícolas. Dada a beleza envolvente fui parando aqui e ali para captar algumas fotos. Decididamente, terei de regressar ao percurso com mais tempo. Ao chegarmos ao ribeiro de Enxidrô apareceram os primeiros obstáculos mais desafiantes, tanto pela subida mais ingrime junto à cascata (que gostei de rever) como pelas primeiras incursões dentro de água.

Saindo da ribeira enfrentei a longa subida para a capela de São Pedro, no cimo da serra. Nesta parte os bastões deram bastante jeito e ajudaram a progressão serpenteante pela encosta. As paragens nos postos de abastecimento foram sempre breves, apenas para abastecer de água e reconfortar o estômago. Essa gestão acabou por correr bem. Apesar de haver algum sobe e desce, nesta parte acabou por permitir a corrida de forma frequente, em particular nas descidas.

Aproximei-me depois da parte mais interessante do percurso, acompanhando as ribeiras. Apesar da dificuldade natural em progredir pela água e pelas pedras, a envolvência compensava tudo. Apenas lamentei não ter mais tempo para parar e tirar fotos. Prossegui então para o desejado Vale do Bestança, passei o rio subi para Soutelo. Foi a partir da antiga ponte de fundação romana que fiz a abordagem para as Fragas da Penavilheira, numa outra aventura. Tinha a expetativa que este percurso talvez passasse por lá, mas logo percebi que não. Acho que seria uma ótima mais-valia.

Ao passar no controlo percebi que o chip à cintura estava demasiado longe do chão para registar o tempo e tive de repassar ajoelhado. Segui depois em corrida pelo trilho, numa parte do percurso muito agradável de fazer. Voltando ao rio Bestança, iniciei depois uma fase de progressão com subidas e descidas alternadas e bastante técnicas pelas margens. Apesar de ser a parte mais interessante do percurso, a tecnicidade acabou por provocar algum desgaste natural. Em algumas partes, e também porque o discernimento já não era o melhor, tinha de parar dois ou três segundos para perceber por onde poderia passar sem arriscar uma queda, que poderia ser complicada. E é também isto que me encanta no trail, progredir por trilhos muito técnicos em locais fantásticos. Por outro lado, fico também com algum lamento pela Natureza ter de suportar o impacto da passagem de centenas de pessoas com pressa.

A chegada à última ponte do Bestança antes de encontrar o Douro marcou mais um descanso antes do desafio final. Uma longa subida com cerca de três km até à meta. Com as penas martirizadas, surgiu-me então uma forte dor lombar que me obrigou a algumas paragens, lembrando-me da parvoíce que é participar em provas de esforço com apenas treino de corrida. Pode ser que para a próxima a memória tenha pena dos sofrimentos do corpo.

A descida final para a meta foi uma corrida de objetivo cumprido e expetativas superadas. Vencer o desafio ao som de aplausos é sempre reconfortante. Foi também então que descobri que, oficialmente, não tinha estado na partida, por o chip não ter feito o registo. Porém, bastou uma simples explicação e logo tudo se tornou oficial. Os 40 km foram feitos em cerca de 7h30. Depois de recolher a medalha e de um pequeno descanso, regressei ao carro para descobrir que calor tinha feito rebentar a rolha da garrafa de vinho oferecida pela organização e o banco estava tão encharcado como bêbado.

Concluir uma prova de ultra trail é sempre fantástico, não apenas pelo momento, mas também pela superação de tudo o que necessário para participar nestes desafios. Para quem desconfia que isto pode fazer mal, direi apenas, de forma viciante, que ninguém tem necessidade daquilo que desconhece. Por mim, até para o ano, na Serra d’Arga! Muito obrigado à excelente organização da prova e parabéns a todos!

Artigo publicado em cruzilhadas.pt

 



1 comment

  • Comment Link alieri 21 July 2019 alieri

    Muito bom relato. Se estiveres para aí virado, vem até ao Algarve dia 10 de Agosto para o UTRP. Podes vir comigo e fazer "apenas" os 16kms. Boas Corridas!

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