A época medieval será uma das que mais curiosidade suscita na sociedade moderna. As feiras medievais espalharam-se pelos concelhos de Portugal como se fossem autênticas viagens no tempo e subsiste um encanto natural em imaginar como seria a nossa vida naquele período. Uma dessas recriações decorre anualmente junto à torre medieval de Cambra, em Vouzela. Na antiga Lafões existem inúmeros exemplos desse legado de história e tradição. O Trilho Medieval oferece precisamente uma jornada de descoberta desta herança. Trata-se de um trilho circular com cerca de 8 km, de dificuldade baixa, e com início/final em Cambra, uma terra que soube conservar o seu património. O nome provém de Cambar, antiga designação do rio Alfusqueiro, que ao longo dos séculos foi sendo um fator agregador de várias gerações lafonenses que ali assentaram a vida. Para quem gosta de conciliar uma boa caminhada a uma melhor degustação, recomenda-se uma paragem na Taberna do Labrador, restaurante próximo do início/final do percurso.
O Trilho Medieval tem início no largo de Cambra. Poucas dezenas de metros depois chega-se à igreja da freguesia (GC4W0WT). O granito é senhor deste vale e todas as construções parecem provir dele. O percurso prossegue depois pela zona rural da aldeia. Os espaços estão bem conversados e a mistura de arvoredo acaba por melhorar a experiência da caminhada. Seguindo por este ambiente de ruralidade encontra-se um aqueduto artesanal que servia para irrigar os campos. É curioso notar o esforço e o engenho destas construções do passado para concretizar algo que atualmente seria simples.
Continuando a viagem no tempo, e após atravessar as poldras do rio Alfusqueiro, chega-se por fim à Torre de Cambra (GC205J0). Trata-se de um monumento de planta quadrangular, erguido no final do séc. XIII. Terá sido parcialmente destruído por um incêndio, mas mantém ainda uma chama de inexpugnabilidade. Junto à torre existe um parque de lazer e uma apetecível lagoa do rio Couto para os momentos mais estivais. Seguindo a montante do rio, pelo percurso, encontramos a Cova do Lobisomem (GC1CW0C), uma caverna pré-histórica envolta em lendas e mistérios. O espaço sugere um descanso para apreciar a Natureza escondida. Apenas é de lamentar a proximidade com a autoestrada.
Prosseguindo pelo trilho, atravessando uma parte de floresta, faz-se mais uma paragem na antiga fábrica de queijo (GC4ZA6E), um edifício entretanto abandonado e cuja função facilmente se percebe pela designação. O arvoredo envolvente cria sombra muito apetecível, o que no passado proporcionava boas condições para a feitura do queijo e no presente serve de desculpa para descansar. Entra-se depois na aldeia de Tourelhe e cruzam-se as leiras de trabalho que garantiram o sustento aos cambrenses durante séculos. Descendo a encosta, encontra-se mais um motivo de interesse medieval: a ponte de Confulcos. Apesar de estar próximo da nascente, o rio Alfusqueiro sempre se mostrou imprevisível. Para mitigar os efeitos das águas invernais foi decidida a construção de uma ponte de dimensões consideráveis. Tal como muitas outras na altura, também era cobrada portagem para a sua travessia. Próximo da ponte é possível visitar as ruínas de alguns moinhos esquecidos. Esta é uma das zonas mais bucólicas do percurso.
Subindo a encosta, chega-se a Confulcos. Atravessada pela autoestrada, esta aldeia é cada vez mais um ponto de passagem. Atravessando os campos agrícolas e alguma floresta, alcança-se a aldeia de Caveirós de Cima. À medida que o trilho se aproxima do final, o pedestrianista deambula por uma ruralidade que procura subsistir à pressão da modernidade. Passando pela capela da aldeia, inicia-se a descida para o final do trilho. O largo de Cambra e o descanso merecido estão à distância de um pequeno esforço.
O Trilho Medieval oferece vários motivos de interesse patrimonial e histórico. Apesar de atravessar algumas aldeias, prossegue maioritariamente pelos campos ou por florestas. Dada a sua dificuldade baixa, é um trilho para toda a família e não levanta problemas de acessibilidade. Está bem sinalizado, mas muitos dos locais de interesse já perderam as respetivas placas informativas.
Informação técnica:
- Dificuldade: Baixa;
- Tipo: Circular;
- Distância: 8 km;
- Duração: 3 horas;
- Desnível acumulado: +/- 241 m;
- Altitude mín / máx: 460 / 562 m;
- Track do percurso: Descarregar.
Agora só falta ir à descoberta da história no Trilho Medieval!
Boas descobertas e bons percursos!
Artigo publicado na GeoMagazine #20 e em antoniocruz.pt.